Editorial
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Dezenas de toxicodependentes estão sem acesso a uma primeira consulta, que podia ser um forte incentivo para uma possível recuperação
Faltam médicos de família, faltam médicos para assegurar o normal funcionamento dos serviços de urgência e, há quase um ano, faltam médicos também nos polos da Marinha Grande e Pombal que integram o Centro de Respostas Integradas de Leiria, como vos damos conta nesta edição. Consequência: dezenas de toxicodependentes estão sem acesso a uma primeira consulta, que podia ser um forte incentivo para uma possível recuperação.
Alguns utentes ainda tentam a sua sorte na unidade de Leiria, mas também aqui os recursos humanos não abundam e, apesar dos pedidos de colaboração aos médicos de família, este tipo de assistência nunca substitui a intervenção de um médico especialista em toxicodependência, o que compromete a eficácia dos programas e motiva a desistência de muitos dos pacientes. Refira-se, a título de exemplo, que a participação em programas de substituição opiácea, com a metadona, só pode ser prescrita por médicos dos Centros de Respostas Integradas.
Quem recorre a este tipo de serviço, como se pode constatar, sofre problemas de adição a drogas pesadas, com a cocaína, heroína ou crack, mas também ao álcool, à canábis, ou até ao jogo. Um fenómeno transversal a uma faixa etária alargada - com especial incidência nos homens com idades entre os 45 e os 59 anos – que não escolhe nacionalidades. Pelo contrário.
Com o aumento do número de imigrantes na nossa região, também nestes centros se tem notado o crescimento da procura por parte de cidadãos estrangeiros. O que levanta um outro problema: à ausência de recursos médicos especializados, junta-se a dificuldade na comunicação, por questões linguísticas.
E agudizam-se as preocupações de quem sabe, fruto da longa experiência profissional, que esta é uma área da saúde extremamente sensível, onde basta um pequeno desvio ou contratempo para deitar a perder semanas, meses ou anos de trabalho.