Editorial
O silêncio dos oprimidos
São oprimidos "os milhares de jovens à procura de casa por um preço compatível com os rendimentos do seu primeiro emprego”
A afirmação é do Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se assinalou ontem, dia 1 de Janeiro: “Ninguém vem a este mundo para ser oprimido”. E foi com base nestas palavras, que apelidou de proféticas, que a Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP) lançou um alerta, lembrando os oprimidos que existem entre nós, sem visibilidade e cuja voz não se faz escutar.
Numa tradução rápida sobre opressão, podemos ser levados a pensar apenas naqueles que são dominados pela violência ou pelos abusos de poder. Mas quer o Papa, quer a Comissão presidida pelo juiz Pedro Vaz Patto, incitam-nos a uma reflexão mais profunda e abrangente e apelam a acções mais concretas no dia-a-dia, que não podem ser só responsabilidade dos líderes políticos e governamentais.
Recordam-nos, por exemplo, que “é oprimido o migrante” para quem se olha “com desconfiança e receio”, apesar de lhe serem atribuídas “as tarefas mais árduas ou penosas” que muitos desprezam; que “é oprimido o pobre a quem tantas vezes ignoramos as circunstâncias e os abismos em que se encontra de angústia e de falta de saúde mental”.
Que são oprimidas “as comunidades do interior, as vilas e aldeias a quem os fogos do Verão e do Outono devoram a esperança”; “as famílias que vivem sob o jugo das dívidas que contraíram e das taxas de juro que agrilhoam a sua esperança num futuro melhor”; “os milhares de jovens à procura de casa por um preço compatível com os rendimentos do seu primeiro emprego”.
No virar de mais uma página no calendário, atrevemo-nos, por isso, a sugerir não só ano novo vida nova, mas ano novo atitude nova. Atrevemo-nos a propor mais empatia no acolhimento dos migrantes, mais solidariedade no apoio aos desfavorecidos, mais atenção às comunidades do interior, mais preocupação com as oportunidades dadas aos jovens.
Talvez assim, no final de 2025, possamos fazer o balanço de uma sociedade mais justa e inclusiva.