Opinião

Incentivos à natalidade?

14 fev 2025 16:28

Ser uma mulher grávida ou ter um bebé pequeno continua a ser motivo de discriminação laboral e promoção de desigualdades

Há cerca de duas semanas saiu uma notícia dando conta que em 2024 cinco grávidas foram despedidas por dia, totalizando cerca de 1.866 grávidas nesse ano que possuíam contratos a termo que não foram renovados ou que pertenciam aos quadros. Sendo este o valor mais elevado desde 2020. O que nos deixa a pensar. Onde estão os incentivos à natalidade em Portugal?

Ser uma mulher grávida ou ter um bebé pequeno continua a ser motivo de discriminação laboral e promoção de desigualdades. Espera-se que uma mulher prescinda desse direito ou que se ofereça para teletrabalho ou regresse ao trabalho precocemente. E qual é o problema? A falta de fiscalização e proteção jurídica à mulher e à sua criança e a conivência de todos nós. Especialmente de outras mulheres que ficam em silêncio ou até mesmo que apoiam esta discriminação.

Lembrem-se minhas senhoras, quando houve greve dos camionistas aqui há uns anos, um país inteiro parou e vergou. O que aconteceria se nos uníssemos enquanto mulheres? Mais chocante ainda foram as declarações da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social sobre o alargamento da licença parental de 120 ou 150 para 180 e 210 dias, que poderia ter o potencial de “agravar desigualdades entre homens e mulheres”. Não cabe ao Governo remediar essas desigualdades? Mais uma vez só pensamos nas consequências imediatas e económicas das questões e nunca a longo prazo. 

Ou seja, só remediamos nunca prevenimos. Os estudos apontam que as licenças parentais, usufruídas pela mãe deveriam ser de 9 a 12 meses para prevenir uma série de questões futuras nas crianças. Estamos a falar de ansiedade de separação, doenças perfeitamente evitáveis no primeiro ano de vida com recurso ao SNS (já de si sobrecarregado), diagnósticos de PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção), diagnósticos de autismo, fraco rendimento escolar, problemas de comportamento, etc, etc.

Este assunto tocou-me especialmente pois encontro-me em final de gravidez e planeio ausentar-me do trabalho 6 meses de licença. Além disso, já me encontro de baixa por algum risco médico. Os comentários que tenho ouvido são de mulheres: “ah mas eu trabalhei quase até à última” ou “eu só tive direito a um mês de licença, 6 meses é muito tempo!”.

A minha gravidez deu trabalho a 4 pessoas na minha ausência. Não é uma questão de vistas curtas? Eu não posso deixar de pensar na minha avó paterna, uma comunista ferrenha, que tantas vezes se atravessou para que estes direitos fossem conquistados. O que pensaria ela hoje de nós que os damos de bandeja? 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990