Opinião

Cidadania começa em casa

14 jun 2024 11:33

Como podem os jovens de amanhã ter interesse na política se não foram educados para falar sobre esses temas?

No passado domingo tivemos mais um ato eleitoral e na sequência dos dados os números da abstenção, que no meu entender são sempre demasiado elevados, surgiu-me a ideia de que o exercício de cidadania é algo que deve começar em casa. Ou seja, os bons exemplos vêm de cima.

Como podem os jovens de amanhã ter interesse na política se não foram educados para falar sobre esses temas? Quando a descrença, não só na política mas num modo geral nas instituições, é a regra? Diz-se mal de serviços públicos, de tribunais, de segurança policial… Como se nada funcionasse. E a desesperança e a descrença reinam. Vale a pena votar? – muitos questionam. Este texto não é um apelo ao voto, até porque viria tarde. É sim, um apelo às famílias enquanto educadoras dos adultos de amanhã. 

Em intervenção em terapia familiar, muitas vezes coloco exercícios de cidadania dentro das famílias. Fazemos aquilo que se chamamos de “Conselho Familiar” em que a família se reúne em torno de um problema trazido por um dos seus membros (que pode dizer respeito à família ou a algo externo à família) e todos os membros sugerem soluções e se comprometem com a sua execução. No final elabora-se uma acta (sim porque palavras leva-as o vento).

O que se pretende? Algo muito simples, especialmente quando se tem adolescentes. Que vale a pena participar, que as suas opiniões são válidas e úteis e que todos são parte da solução quando a isso se comprometem. A palavra-chave aqui é envolvimento. 

Como nos sentimos envolvidos? E agora não falo apenas de famílias. Na minha dissertação de mestrado estudei algo chamado “sentido de comunidade”, um sentimento de se fazer parte de uma comunidade, de pertença e de participação cívica. Ora este sentimento tem duas vertentes: pressupõe a participação cívica voluntária dos indivíduos e a capacidade da sua comunidade para os chamar a essa mesma participação. 

Ora se não dermos às nossas crianças a oportunidade de participar por exemplo em atividades de envolvimento comunitário como por exemplo uma ação de limpeza de praias voluntária, em que possam sentir que a sua presença fez a diferença, que contribuiu para algo superior a si mesmo, esse interesse não surgirá por si mesmo. E continuaremos a queixar-nos de que as nossas crianças e adolescentes são egocêntricos e não querem saber de nada. E depois continuaremos a queixar-nos que nada muda e tudo está igual. 

Este texto não é sobre política. É sobre cultura familiar.  

Deixo-vos com uma frase que encontrei recentemente: A sociedade de amanhã precisa rapidamente de perceber que cooperar é melhor do que competir. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo ortográfico de 1990