Opinião
Agarrados aos ecrãs
As crianças com o passar dos anos perdem o apelo do brincar se este não for estimulado por adultos
Nos primeiros dias de janeiro, surgiu uma reportagem televisiva com vários especialistas sobre a exposição aos ecrãs e os atrasos no neurodesenvolvimento das crianças. Falamos do quê? Atrasos de linguagem, pouco desenvolvimento motor, défices de atenção, dificuldades de socialização, dificuldades de leitura e escrita, entre outras.
Qual a solução? Uma exposição controlada aos ecrãs conforme as idades. Qual o tempo ideal de exposição? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) até aos 2 anos zero e dos 3 aos 6 anos uma hora por dia, após 6 anos máximo 2 horas por dia. Se não estão nos ecrãs, o que fazer?
As crianças com o passar dos anos perdem o apelo do brincar se este não for estimulado por adultos. É essencial proporcionar às crianças oportunidades para brincar, seja em casa ou na rua (como no parque por exemplo). E quando passa a ser um vício e controla a criança/ adolescente? É essencial haver regras bem definidas de utilização de ecrãs de acordo com as idades e supervisão por parte dos pais.
Não é apenas uma questão de tempo, mas igualmente sobre a qualidade dos conteúdos consumidos. A utilização de redes sociais é outro tema controverso. Não deve acontecer em idades precoces, não aconselhável antes dos 13 anos e deve ser acompanhada de algum tipo de controlo parental, uma vez que muitas vezes os perigos espreitam nos jogos online ou nas redes sociais.
E o que acontece quando as crianças viciadas são privadas dos ecrãs? Observamos humor deprimido, birras e irritabilidade, baixa tolerância à frustração, alterações de sono, pouca capacidade e autoregulação e comportamentos de oposição. Existe já um nome para isso: SEE – Sindrome dos Ecrãs Eletrónicos.
Muitas vezes em consulta negociamos o uso controlado de ecrãs, que por sua vez devolve aos pais os seus filhos. As crianças voltam a brincar, a falar sobre o seu dia, tornam-se mais fáceis e menos irritáveis. Podemos voltar a ter horas de jantar que são momentos de conexão familiar, partilha e comunicação. Permite interação entre os membros da família e a participação das crianças na rotina familiar.
O que fazer então? Não demonizar o uso da tecnologia. Quando bem utilizada, é uma ferramenta de aprendizagem incrível. Só que para tal, isso implica da parte dos pais/responsáveis pela crianças/adolescente um conhecimento e supervisão constante.
Parece importante ressalvar que os adultos devem igualmente ser exemplos de boa utilização da tecnologia… Como está a sua utilização diária do telemóvel?