Opinião
Burnout: o novo palavrão ou doença ocupacional?
Sim, muitos de nós ficamos doentes e isso não deve ser visto como uma fraqueza
A pandemia trouxe coisas muito negativas mas também algumas coisas positivas. De destacar a importância que todos começamos a dar ao parente pobre da saúde, a saúde mental. Acho que depois disto nada adianta ter um corpo saudável, sem a mente sã.
O Burnout ou a exaustão profissional (ou parental) é uma das palavras que começou a entrar no nosso vocabulário de educação para a saúde. Se for uma nova moda como algumas pessoas insinuam, então é uma péssima moda com elevados custos pessoais, familiares e profissionais. Na verdade trata-se de uma síndrome com vários sintomas associados ao stress intenso durante um longo período de tempo com recuperação lenta e difícil. Não é tanto que as empresas estejam a pôr as pessoas doentes, mas sim a nossa cultura de trabalho e atitudes perante o mesmo.
Na pandemia trabalhámos em casa. Não separámos o escritório da vida pessoal. Começamos a estar sempre ligados e a responder a e-mails às 22h porque era quando as crianças estavam na cama e o podíamos fazer. Penso que todos nós chegamos à conclusão que: 1) trabalhar em casa não é para todos e 2) exige uma gestão extraordinária.
Portanto sim, muitos de nós ficamos doentes e isso não deve ser visto como uma fraqueza. Pelo contrário, trata-se da rebelião do corpo e da mente sob aquilo que já não consegue suportar. No Japão existe inclusivamente uma palavra para isto: karoshi – trabalhar até morrer.
Não sei quanto a vós, mas eu cá gostava de ser como a diretora financeira da Microsoft que se reformou aos 44 anos. Posso continuar a sonhar?
Numa altura em que a maioria de nós (aqueles que têm capacidade financeira para tal) regressam de férias importa ressalvar que: 1) as férias são essenciais ao nosso bem-estar, devendo o descanso ser respeitado; 2) o Burnout não se cura em quinze dias de férias.
Na minha prática clínica com crianças, tenho alertado bastantes pais e mães para o seu estado mental e da necessidade de procurarem ajuda para si mesmos, sob pena de não conseguirem nem ajudar os filhos nem a si mesmos. Após tratamento dos pais e melhor gestão do stress em casa, as crianças melhoram bastante. Parece óbvio demais?
Importa ressalvar que o termo burnout parental se refere a pais que devido à sua condição não estão capazes de desempenhar na sua plenitude as suas funções parentais, não insinuando de forma nenhuma que não desejam ser pais.
Se acha que pode estar a sofrer de Burnout ou outra doença do foro mental, procure ajuda!