Opinião

Défice de atenção ou falta de atenção?

19 jul 2024 11:16

Na minha prática clínica tenho vindo a diagnosticar muitos adultos com PHDA, especialmente mulheres

No passado dia 13 de julho, comemorou-se o Dia Mundial do Défice de Atenção. Mais um dia estranho a ser celebrado?

Não, na verdade a prevalência da PHDA – Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção tem vindo a aumentar mundialmente. Talvez porque estejamos mais atentos e seja mais fácil diagnosticar as crianças mas também porque se estão a estudar importantes mudanças no nosso meio ambiente, nomeadamente na forma de educar e especialmente na vinculação.

O que tem a vinculação, relação primária entre uma criança e os seus cuidadores a ver com o défice de atenção? Bom tudo. Basicamente o amor molda-nos o cérebro e faz-nos crescer os neurónios.

E a educação? Em consulta vão ouvir-me muito falar contra os treinos de sono em que é suposto deixarmos um bebé uma noite inteira a chorar para que “aprenda a dormir sozinho”. Sabem o que isso ensina a uma criança? Que os pais não são fonte de suporte. E se medirmos os níveis de cortisol da criança, descobriremos que continuam elevados embora não chore. E já agora, os dos pais também!

O que dizer quando a evidência científica sugere que o trauma causa défice de atenção? Já agora, eu classificaria esses treinos de sono como causadores de trauma.

Tudo isto não vos parece um pouco anti natura?

O leitor poderá começar agora a pensar: mas eu também sofro de elevados níveis de stress. Terei défice de atenção? Possivelmente sim mas este baixará naturalmente caso faça uma boa gestão de stress, assim como uma boa alimentação, sono e atividade física regular.

Quando falamos em défice de atenção falamos de uma alteração permanente na capacidade de manter e suster a atenção durante um largo período de tempo especialmente em tarefas monótonas. Tal como por exemplo ficar 90 minutos sentado imóvel numa sala de aula a ouvir uma matéria desinteressante.

E desengane-se o leitor que achar que isto é moda. Na minha prática clínica tenho vindo a diagnosticar muitos adultos com PHDA, especialmente mulheres.

Nota: a forma como a PHDA se apresenta nas mulheres é substancialmente diferente dos homens. Estamos a falar de pessoas que até tinham boas notas e basicamente “passaram pelos pingos da chuva”. Não sem antes terem passado uma vida a viver ansiosos ou deprimidos por se sentirem diferentes. Ter um diagnóstico é muitas vezes ter uma explicação racional para aquilo que a pessoa pensava ser “as suas excentricidades” como me dizia uma cliente. Para a maioria é um alívio.

Nota: A PHDA tem uma forte componente genética. Se o seu filho foi diagnosticado agora, o mais provável é que alguém da família também tenha.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990