Opinião
A rentrée política
Para que um processo negocial tenha sucesso, ambas as partes terão que fazer cedências
Por esta altura, todos os anos, se repetem as iniciativas que, de alguma forma, marcam o arranque de um novo ano político. Este ano, com mais expectativa se aguardavam pelas intervenções dos principais partidos, PSD e PS, não esquecendo a relevância, embora com notória perda de dinâmica, do CHEGA.
Mais à frente, na tradicional Festa do Avante teremos a intervenção do Secretário-geral dum partido em declínio acentuado, que nada conta para as contas da aprovação, ou não, do Orçamento do Estado para 2025. Como já aqui escrevi, este é o tema que há vários meses paira no cenário político nacional, por força do equilíbrio parlamentar que resultou das eleições do passado dia 10 de Março.
Depois de André Ventura ter inventado como exigência uma proposta de referendo sobre a imigração, algo que nunca acontecerá, veio comunicar ao País que fez birra por causa dum hipotético processo de negociação entre o Governo e o Partido Socialista.
Ora, esse processo não existiu, como informou Luís Montenegro na Universidade de Verão da JSD e o processo negocial corre os trâmites que foram acordados com todos os partidos que, depois de uma primeira ronda, seriam retomados os trabalhos em Setembro.
Contudo, quer do lado do Governo quer do lado do Partido Socialista, começam a desvendar-se, e bem, quais as linhas que não querem ver ultrapassadas, ou por outras palavras, querem garantir aos seus eleitores os compromissos que apresentaram a sufrágio.
Legítimo, diria, para ambas as partes. Contudo, não podemos esquecer nem desconsiderar que houve uma coligação partidária, Aliança Democrática, que venceu as eleições, tendo como consequência a tomada de posse do Governo e a aprovação do seu Programa na Assembleia da República.
Como é evidente, não restarão dúvidas a ninguém que para que um processo negocial tenha sucesso, ambas as partes terão que fazer cedências, mas entendo que nesse campo o Partido Socialista parte em desvantagem por quatro motivos.
Primeiro, governou os últimos 8 anos, sendo que entre 2022 e 2024 com maioria absoluta e, portanto, com todas as condições para executar medidas que agora quer impor. Segundo, este Governo tomou posse a 02 de Abril pelo que esta semana estão decorridos apenas 5 meses de governação.
Terceiro, com pouco mais de 150 dias, não é fácil pôr em marcha um conjunto de acções reformistas, que melhorem a vida dos portugueses e este Governo, concorde-se ou não, já tomou decisões muito importantes, algumas que se arrastavam há tempo demais.
Por fim, quando lhe deu jeito, o Partido Socialista não teve pejo de se aliar ao CHEGA e aprovar um conjunto de medidas contra a vontade do Governo eleito. Posto isto, concordo com Luís Montenegro quando diz que sente que o País está com o Governo. Falta saber se a oposição está, ou não, com o País.