Opinião

A Creche (pouco) Feliz 

29 mai 2025 08:02

Ou o Governo não conseguiu adaptar e prever a necessidade e procura ou então simplesmente não planeou

O programa do Governo Creche Feliz, com todo o seu mérito enquanto medida e ideia, quando confrontado com a realidade está a ser um autêntico falhanço. Porquê? Porque como bons portugueses que somos, tivemos a ideia e executámos sem planear a longo prazo.

Para quem não sabe a medida Creche Feliz – Rede de Creches Gratuitas foi implementada em setembro de 2021 como medida de combate à exclusão social, alargando o acesso à creche gratuita nos privados e IPSS de crianças até aos 3 anos. Permitindo desta forma aliviar financeiramente as famílias da despesa substancial com creche.

Esta medida é sem dúvida excelente e louvável e isso não está de todo em causa aqui. Mas o que é que acontece agora? A procura excede a oferta. Desse modo temos listas de espera gigantes e não temos infraestruturas para dar resposta. E voltamos ao início. Temos pais desesperados à procura de creche sem vaga para colocar os filhos.

A ideia seria incentivar a natalidade dos portugueses mas tratou-se de uma falsa promessa. Ou o Governo não conseguiu adaptar e prever a necessidade e procura ou então simplesmente não planeou. Convenhamos, não erguemos um edifício para albergar crianças num instantinho como se faz como muitos prédios de habitação hoje em dia, certo? 

E que alternativas surgem? Poucas ou nenhumas. Infelizmente a medida de alargamento da licença parental foi chumbada na assembleia, não existem amas credenciadas pela Segurança Social suficientes e a idade da reforma continua a aumentar por isso esqueçam os avós. Surge-me na mente uma imagem de uma memória que os alunos da universidade sénior me dão com frequência que é a de irem para o campo com as suas mães e ficarem o dia dentro de uma cesta de verga. Só que atualmente são outros espaços fechados e ficariam provavelmente dentro de um parque. Mas percebem as semelhanças. Parece que retrocedemos em vez de avançarmos.

Afinal em que medida estamos verdadeiramente a beneficiar as famílias portuguesas e essencialmente as nossas crianças? Sabemos que antes da medida também havia falta de resposta gritante, mas não teremos adiado e criado um problema maior? Ou só interessa aparecer com medidas bonitas para pôr nos programas eleitorais? Como diria a minha avó, custa mais corrigir um erro do que fazer bem desde o início. Mesmo que demore mais tempo.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990