Desporto
Todos pedem uma medalha a Auriol porque é o que esperam da melhor
Começa hoje, pelas 18:15 horas, a participação da lançadora radicada em Leiria e treinada por Paulo Reis nos Europeus de pista coberta, em atletismo. As expectativas são muito elevadas
O tempo voa, como os engenhos que ela lança. E voa tanto que já passaram quatro anos desde a chegada de Auriol Dongmo à cidade. Na altura, a jovem atleta camaronesa mudava-se para treinar com Paulo Reis no Centro Nacional de Lançamentos.
Estava a trabalhar em Marrocos e sentia que precisava de mudar “alguma coisa” na sua vida. E Leiria, pelas condições de treino oferecidas, mas sobretudo pela proximidade de Fátima, cumpria todos os requisitos.
Esta devota de Nossa Senhora tinha acabado de ser finalista nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Tratava-se de uma atleta com um potencial enorme, “explosiva e mentalmente forte”, mas com “muito para evoluir, sobretudo do ponto de vista técnico”, analisava o treinador. “Rezo muito à Virgem Maria. Espero que me ajude”, pedia então Auriol.
E em quatro anos tanta coisa mudou na vida da lançadora, mas a fé manteve-se inquebrantável. Depois de mudar de Rabat para Leiria casou, foi mãe e naturalizou-se portuguesa. Aprendeu português e A Portuguesa. Melhorou a técnica, tornou-se mais forte, lançou ainda mais longe, assinou pelo Sporting, renovou com os leões e encontrou melhores condições de vida.
Também destruiu por completo o anterior recorde nacional do lançamento do peso. Em pouco mais de um ano fez o registo aumentar mais de dois metros. O anterior, pertença de Jéssica Inchude, era de 17,54 metros. Auriol estabeleceu novos máximos por oito vezes, o último dos quais, de 19,65 metros, conseguido em Karlsruhe, na Alemanha, a 29 de Janeiro último.
Está qualificada para os Jogos Olímpicos, foi a líder do ranking mundial de 2020 (19,53 metros) e, com o novo recorde nacional é a primeira deste ano, empatada com a neozelandesa Valerie Adams, duas vezes campeã olímpica e irmã de Steven Adams, jogador de basquetebol dos New Orleans Pelicans, na NBA.
E com todos estes registos, o que se pode augurar da participação de Auriol Dongno nos Europeus de pista coberta, que começam esta quinta-feira? A verdade é que pode muito bem vir a ser a primeira atleta de Leiria a conquistar uma medalha numa competição internacional de primeiríssimo plano.
Além de ser a atleta que detém a melhor marca do ano entre as 17 inscritas, é também a que apresenta o segundo melhor máximo pessoal em pista coberta, apenas atrás da alemã Christina Schwanitz, que lançou 20,05 metros em 2014, a maior rival em perspectiva.
A verdade, admite Paulo Reis, é que “as perspectivas nunca foram tão altas”, interna e externamente.
“Diria até que talvez fosse mais vantajoso estarem um bocadinho menos altas. Tendo a Auriol aberto a época como abriu, a expectativa de toda a gente é que ganhe uma medalha e se possível a medalha de ouro.”
Mas, com a atleta “bem preparada”, o objectivo mínimo, admite, será “ganhar uma medalha”.
“Nunca fui para uma grande competição com a sensação de que estamos tão preparados para cumprir os nossos objectivos, que passam por chegar lá e tentar fazer, em termos métricos, mais do que já fez. Sabemos que se fizer isso, se bater o recorde pessoal, uma medalha certamente ganhará.”
A ansiedade é o factor que menos pode ser controlado pelo técnico que, ainda assim, confia na força mental da lançadora de 30 anos.
“Será a primeira vez que representa Portugal, o que leva muito a sério, e também que tem um estatuto de favorita, o que faz com que toda a malta amiga lhe diga que tem de trazer uma medalha, mas cada vez que surge essa mensagem aumenta um bocadinho o peso nos ombros. Espero que faça uma boa gestão disso, porque em Karslruhe tinha pela frente as melhores do Mundo, vi o estado de ansiedade em que estava e foi esse estado que a catapultou para os 19,65 metros.”
Na competição que se vai realizar em Torun, na Polónia, entre esta quinta-feira e domingo, a lançadora portuguesa entra em acção logo às 18:15 horas portuguesas deste primeiro dia para a qualificação.
A final, onde espera estar, será na sexta-feira, às 12:05 horas. Já agora, a cerimónia de entrega de medalhas desta prova também será na sexta-feira, mas às 20:43 horas portuguesas.
Para Auriol, o mundo é outra coisa, mas assegura que a força vem do mesmo lugar. “Vou dar o meu melhor e Deus vai fazer o resto.”