Viver

“Somos mais religiosos do que pensamos ou do que aquilo que alguns querem”

1 mai 2016 00:00

Marco Daniel Duarte, director do Museu do Santuário de Fátima

(Fotografias: Ricardo Graça)

Onde estava no dia 13 de Maio do ano 2000?
Em Fátima, claro.

Enquanto director do Museu do Santuário de Fátima, está na sua cadeira de sonho?
Sento-me numa cadeira que não me deixa dormir e que permite sonhar.

Já pagou alguma promessa?
É impossível estar no mundo sem que se assumam compromissos e sem que esses compromissos se levem a cumprimento. Quase todos os dias pagamos promessas. Costuma andar a pé? Gosto muito de andar a pé, sobretudo nas cidades. Experienciar a cidade a pé desenvolve todo o intelecto. Nunca fiz uma peregrinação como as que fazem os peregrinos de Fátima. Tenho ideia de que a deveria fazer, mas ainda não quis confundir o objecto de estudo com o sujeito que estuda.

Um roteiro em Fátima que não envolva Cova da Iria nem religião.
É impossível. O forasteiro que o tente fazer ficará sempre com a sensação de que passou ao pé da água e não matou a sede. Essa sede pode até não estar relacionada com a fé, mas o roteiro terá de passar pela Cova da Iria. Integrará, obviamente, outras paisagens, como a paisagem natural (desde as pegadas do saurópode ao Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros) ou a paisagem transformada (desde o lugar do Menino do Lapedo à Colegiada de Ourém ou ao Mosteiro da Batalha).

É um bom garfo?De que sente mais falta durante a Quaresma?
A alimentação é, para além do elemento que nivela a humana maneira de viver, uma marca civilizacional. Quaresma e doces não se encontram no mesmo campo semântico, embora os doces conventuais sejam os que mais aprecio. De qualquer forma, a lógica quaresmal envolve mais as disposições do espírito do que as da mesa.

Quais são os objectos do Museu mais populares junto dos peregrinos?
Os peregrinos não são diferentes dos outros visitantes de museus: gostam de ver os objectos que falam das vidas concretas e do espaço concreto que visitam. No caso de Fátima, há um objecto que impressiona qualquer visitante, seja ou não peregrino: a bala que atingiu o papa João Paulo II; é um objecto que conta uma história dramática que se cruza com o lugar de Deus no mundo contemporâneo. 

 Com a informação que lhe está acessível nos arquivos, vêse tentado a escrever o novo Código Da Vinci?
O maior fascínio que as mitografias exercem sobre mim é a facilidade com que elas se desconstroem e, mais ainda, a constatação de como todos se juntam para que elas perdurem na consciência de uma comunidade. Prefiro analisar os que se detêm a escrever e a reescrever efabulações de sabor histórico, entre a verdade, a meia-verdade e a verosimilhança.

A religião é o melhor combustível para uma boa teoria da conspiração?
É, sem dúvida, porque na sua natureza mais intrínseca se encontra o mistério.  

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