Economia

Contra a escassez de recursos humanos qualificados, formar, formar, formar

2 mai 2024 17:53

Faltam recursos humanos com qualificação e experiência para assegurar a renovação dos profissionais da construção. É preciso apostar na formação para não comprometer o futuro da habitação

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Ricardo Graça/Arquivo
Daniela Franco Sousa

São muitas as profissões relacionadas com o sector da construção onde está a ser extremamente difícil encontrar gerações mais jovens com vontade e qualificação para assegurar a passagem de testemunho. O problema, que já se sente de forma expressiva, irá agravar- se de forma assustadora, à medida que os mais velhos se forem aposentando e o sector não consiga cativar o interesse dos jovens, alertam os empresários do ramo.

São várias as entidades que estão a trabalhar para contrariar este fenómeno, seja através de acções de sensibilização, seja através de um vasto leque de cursos de formação, ou de apoio às empresas no recrutamento de profissionais.

É esse o caso da Associação Regional dos Industriais de Construção e Obras Públicas (ARICOP) de Leiria e Ourém, ou da Flexsis, empresa dedicada à selecção e recrutamento de recursos humanos, que também opera no sector da construção. Também na área da produção de artigos decorativos, de cerâmica e de vidro, o Cencal (Centro de Formação Profissional para a Indústria de Cerâmica) tem vindo a promover vários cursos, quer para iniciantes, quer para profissionais mais experientes.

José Luís Sismeiro (da empresa Mesis- Engenharia) foi recentemente reconduzido no cargo de presidente da ARICOP, para o biénio de 2024/2025. Ao JORNAL DE LEIRIA, José Luís Sismeiro explica que este biénio, a associação continuará a trabalhar pela renovação da classe. “Precisamos de ter nos nossos quadros gente jovem e motivada”, salienta o presidente da ARICOP, que se mostra preocupado com o futuro próximo da construção. É necessário assegurar a passagem de testemunho, porque dentro de sete ou oito anos muitos operários estarão a aposentar-se e será ainda mais difícil encontrar recursos humanos, estima o presidente. O sector exige mão-de-obra qualificada, que leva vários anos a formar, e alguns cidadãos imigrantes, que se têm mostrado disponíveis, ainda não tiveram tempo de adquirir a experiência necessária, observa o dirigente.

“Há trabalhos muito importantes, mas onde é cada vez mais complicado encontrar profissionais. Os pedreiros então neste grupo”, refere José Luís Sismeiro. “Um bom pedreiro, polivalente, é a base de toda a pirâmide. É ele que sustenta todos os trabalhos que se seguem”, repara o presidente. “Um bom pedreiro, com experiência e conhecimentos transversais, até pode fazer alguns trabalhos de ladrilhador e estucador. Já o inverso não acontece”, compara o dirigente da ARICOP.

“Temos vindo a reforçar a formação. No entanto, aos jovens com mais aptidão para os trabalhos físicos não lhes agrada ficar na sala de aula. E em obra, quem tem o conhecimento, muitas vezes não tem a flexibilidade necessária para dedicar parte do seu tempo à formação”, nota José Luís Sismeiro, para quem são fundamentais as formações teórico-práticas. A ARICOP também tem feito abordagens junto das escolas. Contudo, as famílias e os professores não reconhecem muito as vantagens desta carreira profissional, refere o presidente da associação.

“Mas isso irá colocar em causa a sustentabilidade da habitação no nosso País”, alerta o dirigente. “Já nos anos 80 senti isso. Quando entrei na escola comercial, queria seguir um curso técnico na área da construção e acabei por seguir um de mecânica, precisamente por falta de alunos interessados na área que eu queria”, partilha o presidente. Esse trabalho de sensibilização das famílias e das escolas vai ter de continuar a ser feito. A comunidade precisa de saber que “os salários neste ramo são atractivos e que esta área tem muitas oportunidades e facilmente alguém se torna empresário”, considera o dirigente. E, embora o sector nunca tenha despertado particular interesse por parte do sexo feminino, existem várias funções que podem ser executadas por mulheres, repara ainda José Luís Sismeiro.

Cencal conta com mais de quatro décadas de formação na cerâmica e no vidro

Fundado em 1981, no concelho de Caldas da Rainha, o Cencal, expandiu-se posteriormente com um pólo em Alcobaça, e um outro na Marinha Grande (mais vocacionado para o sector do vidro), sendo que continua a ser um espaço de formação que dá lugar a cursos relacionados com decoração e produção industrial, seja para iniciantes seja para profissionais da cerâmica e do vidro.

“Estamos presentemente a dinamizar um percurso modelar, no pólo de Alcobaça, em pintura cerâmica, que tem tido procura razoável. É um curso destinado a adultos, a partir dos 18 anos, pessoas que não têm competências nestas áreas. Portanto, são cursos de formação inicial. Também na Marinha Grande temos várias acções na área do vidro soprado, nas técnicas de fusão de vidro, técnicas de vitral e de maçarico”, especifíca Pedro Paramos, responsável pelos serviços de formação do Cencal. Em Caldas da Rainha, “também temos o curso técnico de cerâmica, mas que não está a ser dinamizado. O Cencal está a remodelar as suas instalações e a modernizar os seus equipamentos e este curso só deverá voltar no final desse processo, no início de 2026”, estima Pedro Paramos.

Além dos cursos de iniciação, o Central promove também cursos para profissionais de empresas de cerâmica e de vidro. Tecnologia e processo cerâmico, pintura e decoração cerâmica, concepção e desenvolvimento de produto cerâmico, modelação cerâmica, técnicas laboratoriais são alguns deles, enumera o responsável pelos serviços de formação do Cencal.

Flexsis no recrutamento de profissionais, também da construção

Recentemente chegada a Portugal, mais concretamente a Leiria, a Flexsis é uma marca de origem suíça, que chega para seleccionar e recrutar candidatos para diversos sectores profissionais, tais como construção, indústria e logística. Numa nota informativa, publicada no seu site, a marca faz saber que a “Flexsis, emergindo da recente fusão entre as prestigiadas empresas suíças Interima e Global Personal Partner, ambas pertencentes ao Interiman Group, deu início ao seu ambicioso processo de internacionalização, escolhendo Portugal como ponto de partida. A Flexsis Portugal, especializada em recursos humanos e trabalho temporário, inaugurou oficialmente a sua delegação em Leiria neste ano”.

A empresa, que “tem uma vasta experiência nos sectores da construção civil, indústria e logística, visa oferecer soluções personalizadas para as necessidades específicas do mercado português”, prossegue a ainda.

“A Flexsis Portugal em Leiria está preparada para fornecer serviços abrangentes de recrutamento e gestão de recursos humanos, auxiliando empresas e profissionais a encontrarem as melhores correspondências no dinâmico mercado de trabalho actual”, salienta a marca. “Apesar de actualmente operar apenas a partir de Leiria, a Flexsis Portugal tem em vista a expansão da sua presença no País, com a implementação de novas delegações previstas para um futuro próximo. Esta estratégia de crescimento reflecte a confiança da Flexsis no potencial do mercado português e o desejo de se tornar um parceiro de confiança para empresas e profissionais locais”, frisa esta insígnia.

“A expansão internacional da Flexsis representa não apenas um marco significativo para a empresa, mas também uma oportunidade emocionante para a comunidade empresarial e profissional em Portugal”, remata a marca.