Sociedade

Bibliotecas escolares desafiadas a alcançar jovens numa era digital

7 set 2025 09:00

Escolas aplicam tecnologias para melhor transmitir o conhecimento

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Cada escola apresenta uma realidade diferente com os seus desafios e possibilidades
DR
Tiago Vasques Ribeiro

No ano passado, existiam cerca de 2.600 bibliotecas escolares, número que tem vindo a aumentar sucessivamente desde 2012, segundo os dados da Pordata.

A missão desses locais, segundo o website da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) é criar “um espaço educativo integrador de múltiplas literacias” e desempenhar “um papel cada vez mais decisivo de capacitação das crianças e dos jovens que as utilizam, formal ou informalmente”.

De acordo com a mesma fonte, ao longo do ano lectivo, são organizadas diversas iniciativas para atrair estudantes para as bibliotecas e utilizar os espaços de forma dinâmica e para melhor servir toda a comunidade escolar.

No ano lectivo de 2025-2026, as prioridades assentam na “promoção do bem-estar físico, mental e emocional” dos alunos, a valorização da “empatia e interculturalidade” e ao aumento da “literacia digital, mediática e informacional” nos jovens.

Na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira (ESALV), em Leiria, a biblioteca serve cerca de 1.000 alunos e o maior fluxo de estudantes verifica-se nos primeiros meses do ano lectivo. Além de disponibilizar livros, computadores e restante material para uso dos alunos, a instituição também procura promover a criatividade e a interacção com tecnologias emergentes na comunidade estudantil.

Foram adquiridos equipamentos que podem ser requisitados, como óculos de realidade virtual, e são organizadas ao longo do ano diversas iniciativas, como o Laboratório da Criatividade, que permite aos alunos interagirem com instrumentos musicais dentro e fora da área da biblioteca.

Apesar de se tratar de uma escola não agrupada e de enfrentar por isso alguns desafios, a biblioteca da ESALV também dispõe de outras possibilidades que outras instituições não têm. A organização conta com uma grande articulação entre os vários departamentos e a biblioteca, de modo a que se possa tirar o maior proveito do espaço e melhor capacitar os estudantes com hard e soft skills para o seu futuro.

Em Pombal, nos estabelecimentos que integram o agrupamento local de escolas, acredita-se que as bibliotecas garantem “o acesso à leitura diferenciada e diversificada”. As declarações partem de Fernanda Gomes, professora-bibliotecária e coordenadora das bibliotecas do agrupamento, que ainda acrescenta que estes espaços “permitem a transmissão de valores aos alunos” e “a proximidade entre todos os utilizadores”.

A coordenadora refere que a biblioteca é maioritariamente utilizada por estudantes do 1.º e do 2.º ciclos de ensino. É menos frequentada por estudantes do 3.º ciclo e volta a ser mais solicitada na altura das avaliações pelo ensino secundário.

Ao JORNAL DE LEIRIA, a professora assume a tecnologia como “uma espada de dois gumes”. “O acesso fácil à informação e tecnologia tem resultado numa diminuição geral da afluência às bibliotecas”, comenta Fernanda Gomes, adicionando que “[o agrupamento] gostaria de modernizar o equipamento multimédia disponível, mas isso não é possível”. Por outro lado, também explica que a integração de aplicações e códigos QR e projectos em parceria com outras escolas e entidades têm ajudado na “valorização das actividades das bibliotecas”.

O tema do futuro das bibliotecas escolares tem sido bastante debatido na actualidade política em Portugal. Em Julho, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação 
(MECI) anunciou, entre outras decisões, a integração da RBE e do Plano Nacional de Leitura (PNL) num novo organismo: o Instituto de Educação, Qualidade e Avaliação (EduQA). A medida gerou controvérsia, com petições e cartas enviadas ao MECI por profissionais e populares.

Quando questionada pelo JORNAL DE LEIRIA sobre estas medidas, Fernanda Gomes concorda com a integração da RBE e do PNL num só organismo, afirmando que “duas entidades com funções similares não fazem sentido” e que, de um ponto de vista de optimização de recursos, “é necessário que haja um organismo que eficiente e eficazmente coordene as actividades de educação escolar e parental”.