Opinião

Websummit, indignação e regabofe

24 nov 2017 00:00

A coisa pública sempre nos preencheu o imaginário do esotérico e do etéreo. “Joãozinho, de quem é o Panteão?”... é da coisa pública...

“Huguinho, de quem é a estrada?”... é da coisa pública...  Ora, se são da res publica, inteligível e corporeamente, são nossos! É tudo nosso! É tudo nosso, palpável no bolso direito dos que pagamos impostos. 

Mas a lógica nem sempre é companheira da astúcia (ou os astutos nem se sempre se preocupam com a lógica esmiuçada). Vamos ao caso dos astutos que nos governam. 

Um leiriense paga por estacionamento €0,80 por hora. A lógica diz-nos: o centro de Leiria é tão cosmopolita quanto a metrópole que cobra os mesmos 80 cêntimos em zona verde. Mas não é o caso.

Se assim fosse, estaríamos a afirmar que existem os mesmos milhões a circular em parcos quilómetros quadrados do coração da cidade, como os que circulam pelas estradas de Lisboa. Se assim fosse, serviriam os cofres camarários, em igual medida, David e Golias.

Mas a lógica espartilhada diz que, a haver dívidas, temos de as liquidar, e o arrendar dos espaços, dos passeios e das ruas são fontes de receita como outras quaisquer. E, aí, estou solidário com a indignação do primeiro-ministro: a quem é que lembra arrendar o Panteão Nacional por €3000? Fazem tainadas, cavaqueiras e demais ceias com a Amália e o Eusébio e limitam-se à esmola para os defuntos?

Lá, como cá, fica a questão: quanto ganhamos pelo arrendamento do elefante branco (leia-se: Estádio Municipal, entenda-se: acumulador de dívida)?

É aqui que pensamos: "é tudo deles, dos astutos que nos governam. Determinam no bolso esquerdo das conveniências o que, alegadamente, é melhor para o arrendamento do que é nosso".

Por nós, os €0,80/hora metropolitanos do estacionamento leiriense devem servir para algo determinante, que capte estas novas convenções, estes propulsores de economia como o Websummit - quem é que precisa de aplicar 0,80€ em melhores transportes com horários fiáveis? 

Por nós, apostamos na construção de um Panteão, que é o que nos falta para os eventos deste calibre. Pois cá, como em Lisboa, também gostamos de regabofes à luz das velas.

*pagador de impostos