Opinião
Saudades do futuro
Na escrita, como na vida, pouco fica para além da verdade.
Este é o meu último texto em colaboração regular com o JORNAL DE LEIRIA ao qual agradeço o espaço de absoluta liberdade onde percorri e discorri a existência, umas vezes mais feliz, outras menos, mas sempre absolutamente livre, tal qual a vida deve ser na busca do seu próprio significado.
Convenço-me de que vou aprendendo a escrita e a vida em simultâneo, ou talvez em vice-versa ou, porventura, nenhuma delas.
Ao longo do tempo, vou percebendo que ambas sucumbem perante ameaças semelhantes: a mentira, o ego ou a ignorância. Mas avancemos pela positiva.
Na escrita, como na vida, pouco fica para além da verdade.
Nestes tempos estranhos, em que o ruído estridente e mediático nos chega em forma de dualidades e dicotomias, extremismos e partidarismos irresponsáveis postados e partilhados em troca de atenção imediata, conforta-me saber que no silêncio da escrita ou da leitura, voltaremos a encontrar o caminho de volta a nós.
Sem debates egocêntricos nem diatribes surdas. Sem ódios anónimos nem tão pouco dirigidos. Sem energias gastas em temas que não acrescentam a nada nem a ninguém.
Que nos sobrevivam os jornais, os livros e todas as tentativas honestas de colocar nas palavras o real peso dos dias. E que se faça disso ao menos leveza.
Para escrever, como para viver, nada mais importa do que a verdade. Não a minha. Não a tua.
Falo de uma verdade mais antiga que quanto mais profunda, mais de todos é.
Andaremos longe dela enquanto algum de nós julgar aceitável discutir-se raça ou cor de pele.
Crenças, religiões, preferências ou orientações. Não devia ser preciso dizer nada disto. Mas infelizmente ainda é.
Por isso mesmo, antes de me ir embora, volto ao assunto onde me levam quase sempre as palavras, na esperança que percebas que rimos e choramos como gente.
Com o mar no corpo ou o fogo na pele. O amor em doses diferentes de procura mas igual para todos quando encontrado, tal qual o sangue nas entranhas da humanidade onde imagino subsistir, ainda que envergonhada, a verdade que define a nossa condição.
Umas vezes mais feliz, outras menos. Mas sempre livre, tal qual a vida deve ser na busca do seu próprio significado.