Opinião
Tristeza não tem fim, felicidade sim (Uma bossa seminova)
Meu bem, às vezes, era mais fácil levares a tristeza com a candura da bossa nova.
Às vezes, apetecia-me falar brasileiro. Bem sei, bem sei.
Falamos todos um português irmão. Pena que sejam gémeos falsos, separados à nascença para carregar a alma em hemisférios tão distintos.
Levezas tão diferentes.
Às vezes, a chuva podia ser mais tropical, como uma sombra que passa rápido por mais forte que venha. E o sol que sempre vem também.
Às vezes, apetecia-me existir em português brasileiro. Dizer amei sem tanta deferência e sem lhe dar tanta importância, como quem se predispõe a amar por tudo e por nada.
Como quem sabe que a tristeza não tem fim, felicidade sim e resolve cantá-lo gostosinho assim.
Nem que fosse só às vezes, aceitar que a vida é doida, lelé da cuca. Não é mel na chupeta não. É um ó do borogodó.
É rimar numa lengalenga sem trava-línguas como quem tenta ser criança para sempre. Nem que fosse só hoje, não trazer fado nem enfado nas palavras.
Meu bem, às vezes, era mais fácil levares a tristeza com a candura da bossa nova.
Como quem sente as dores do mundo inteirinho e amacia a coisa com beijinho.
Ensina com jeitinho. Pode bem ser que, às vezes, encontres uma verdade maior num diminutivo tão simples assim. Tão generoso e despretensioso assim.
Bem sei que cada um carrega o batuque o melhor que sabe, mas - lá está - às vezes não seria pior dares menos peso às palavras, consciente de que estamos todos apenas vivendo e que o gerúndio é sempre uma coisa que passa, como a chuva tropical.
Não será por acaso que viver é uma arte.
É um caminho onde é suposto encontrar nas aparências dissonantes, uma nota comum a todos nós.
Sem esquecer que no peito dos desafinados também bate um coração.
Volta e meia, é preciso lembrar com jeitinho o que toda a gente entende em qualquer parte do mundo.
Meu bem, às vezes, apetecia-me falar brasileiro.