Opinião
Tudo está (mais ou menos) bem quando acaba (mais ou menos) bem
Talvez o que não tem solução resolvido esteja apenas para os mandriões.
Precisava de provérbios e expressões mais ambíguos.
Mais incertos e menos moralistas.
Dava jeito recorrer a frases feitas um tanto ou quanto equivocadas.
Chavões tão problemáticos e despreparados quanto cada um de nós.
Do que eu preciso hoje, é de um ombro gramatical de conforto para as zonas cinzentas da vida.
Às vezes, talvez seja necessário e libertador choramingar sobre leite derramado. Ruminar a morte da bezerra até à exaustão.
Talvez o que não tem solução resolvido esteja apenas para os mandriões.
Para os que encontram em frases solidificadas a razão de não saírem por aí a experimentar palavras e opiniões novas. Modos diferentes – e nem por isso errados – de viver esta enorme incógnita gozona a que chamamos vida.
Por exemplo, dizer-se que a pensar morreu um burro é extremamente redutor e inútil para uma osga ou para uma avestruz.
Para não falar de um ou outro bicho que há-de ter tido o mesmo fim sem provérbio que o alertasse para o efeito destruidor do pensamento.
Hoje, o que eu precisava era de provar ao saber de experiência feito, que as histórias conseguem fins melhores e alternativos quando dependem do tamanho da nossa verdade e do nosso coração.
Que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Nem tacanha. Nem moralizadora. Nada é oito ou oitenta. Não é quarenta nem vinte e dois.
A fazer contas à vida, que seja pelo número de dias, de experiências e de histórias inesperadas em que conseguimos ser livres o suficiente para saber que nada é absolutamente certo ou errado.
Pelo caminho (de cada um), reforçar que é no respeito e contemplação pelo pantone imenso de existências que poderemos aprender alguma verdade que interesse fixar de forma colectiva.
No fundo, precisávamos todos de um único provérbio: “Viver pode dar asneira.”
E nesta simples formulação saberíamos todos que contaremos sempre e apenas com isso mesmo. Para o bem e para o mais ou menos bem.