Opinião

Os idosos. Os seniores. Os mais velhos. A idade maior. Os velhos

10 nov 2022 16:29

Um dia, seremos nós no lugar deles. Que nesse dia todos possamos ser amados, respeitados, e ouvidos

São termos usados para designar, de forma mais natural, com reverência, de forma inócua, ou mais desabrida, todos aqueles que ultrapassaram uma das linhas traçadas pela comunidade: a da idade da reforma, a da possibilidade de ajudar na vida quotidiana de terceiros, leia-se, dos filhos, e netos, a da capacidade de autossuficiência quotidiana, ou a da plena capacidade física.

Mas tal profusão de termos, quando o resto dos mortais se divide simplesmente em bebés, crianças, adolescentes, jovens, e adultos, ou pouco mais, demonstra já a diversidade com que diferentes comunidades, e com que diferentes pessoas dentro da mesma comunidade, encaram esta derradeira fase da vida. Sendo a última, irá terminar cedo ou tarde numa inevitável fragilidade e em alguma possível tristeza, mas significará sobretudo que se viveu bastante e se acumulou experiência, sabedoria, tranquilidade e certeza do que é realmente importante, e se usufrui de mais tempo para si, e para oferecer a quem chegar.

Tudo isto é precioso, e todos os que vivem na esfera de um destes belos seres amadurecidos deveriam ser capazes de saber encontrar e aproveitar a sua presença, porque com eles se aprende, se avalia muito melhor a importância das coisas, se ri muito também, e se alimentam as nossas raízes que ficam um pouco mais fundas, mais fortes, e mais aptas a sustentar-nos a vida.

Serão sempre encontros fundadores em que podemos encontrar uma outra consciência de nós, um espaço de pensamento sobre o nosso caminho adiante, e um momento para atentar nos valores a que nos devemos manter fiéis.

Mas não é assim que vai acontecendo com muitos, e com um apenas seria já demasiado! Muitos são esquecidos pelos seus, deixados sós e tristemente cientes de já não serem importantes para a família que construíram; muitos são ignorados por se achar que já nada têm de interessante para dizer, e perdem a voz por não terem quem os queira ouvir; muitos são reduzidos a cumpridores de ordens alheias e de formas de fazer que nunca foram as suas, reféns da necessidade de ajuda; demasiados são maltratados física e emocionalmente, pelos seus, ou por quem deles cuida, num acto terrorista, desalmado, sem perdão.

E a culpa é nossa, a culpa é de nós todos. Culpa de quem os abandona e de quem os maltrata, sem dúvida, mas também de quem não os “vê”, de quem não percebeu ainda o enorme erro de avaliação que comete por arrogância e, sobretudo, culpa de todos os que não educam para o contrário, quotidianamente, através de palavras e de atitudes.

É preciso querer realmente estar com eles e saber o que pensam, o que sentem, o que lhes interessa, o que os faz felizes, o que desejam ou o que projectam fazer. Estar com eles sem condescendência, sem espírito de missão, sem necessidade de cumprimento de dever; apenas estar, tal como estamos com outra pessoa qualquer.

Um dia, seremos nós no lugar deles. Que nesse dia todos possamos ser amados, respeitados, e ouvidos, sem que se confunda o cuidar com a infantilização, a proximidade com a imposição, e a ajuda com a retirada do poder de decisão.