Opinião

Não quero falar de guerra

8 abr 2022 15:45

O ser humano é a espécie invasora que o planeta não merecia

Não queria, não quero, ninguém quer, falar da guerra.

Mas temos que falar da guerra. Um horror de desumanidade.

Quem a pratica e quem a financia. Não, não há razões de duas partes.

Há um invasor, deliberado, há um rasto de morte e destruição a níveis criminosos, com imagens horrendas de civis, mulheres e crianças…

Ouço parcas palavras de quem se senta na cadeira da ONU. Condena. Diz-se preocupado. Quer a paz no mundo (como o discurso das misses a desfilar fatos de banho).

Pede-se mais à ONU. O multilateralismo atolado em considerações vagas e suposto direito internacional (que protege tudo menos quem devia) precisa de fazer mais do que relatórios e comentários.

Que lugares são estes que pouco mais fazem que isto? Senão eles, então quem? Acordem.

As sanções económicas têm destapado os iates milionários de funcionários públicos de um regime austero, as cidadanias a soldo e o lado negro dos negócios, mas não têm funcionado a parar o curso da história. Não chega a doer.

Esta guerra tem a particularidade de estar a ser quase transmitida em directo e comentada e partilhada nas redes sociais, com informação, mas também opiniões e comentários.

Os níveis de desinformação são brutais sem que ninguém consiga travar essa outra parte da guerra.

Porque quem o permite, relativiza ou silencia tem um nome: cúmplice.

Há “ideias” que merecem publicamente repúdio. Até ao Tribunal Penal Internacional haverá ainda muito caminho a percorrer, mas que a vontade não vacile e a coragem prevaleça a quem tem por obrigação documentar aquilo a que temos assistido.

Ver comentadores (será que lhes podemos chamar isso?) na comunicação social a defender este regime, supostamente para “equilibrar” as partes, ultrapassa qualquer limite da decência, a coberto de uma suposta liberdade de expressão.

Desinformação é mentira e na hierarquia de valores os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana estão bem acima da escala.

Que negócio televisivo é este que permite claques de apoio ao que se está a passar? É revoltante.

Imagino a era de Hitler com redes sociais e debates de televisão à mistura… haveria personagens a tentar perceber o seu “lado” da história?

Haveria gente apostada na distorção do seu regime sangrento? Seria permitido alguém vir a público desmentir campos de concentração, com a ligeireza de quem conta episódios da bola?

Que força oculta é esta que tem levado tanta gente a desligar-se de uma realidade física e procurar uma suposta “liberdade” virtual e metaversica para viver sem empatia com os demais?

A luta pela paz parece indiferente, ao ponto de ser comentada a par de episódios do Big Brother e tagarelice global.

Até a ajuda humanitária tem aparecido travestida de promoção de imagem pessoal e caridade interesseira.

A humanidade está muito doente mesmo.

Pelo que se tem passado, pelo que não consegue fazer e pelos danos que isto irá causar.

O ser humano é a espécie invasora que o planeta não merecia.