Opinião

Gaza

31 dez 2023 10:09

Devíamos aprender alguma coisa com isto, mas, duvido muito

Este Natal gostava de ter ido a Gaza contar um conto que não é de Natal, mas é de nascimento de uma nação e que não é realmente um conto porque aconteceu mesmo, é, como se costuma dizer, um facto histórico.

É assim: entre 1568 e 1648 decorreu a Guerra dos 80 anos.

Um processo longo e desgastante de luta pela independência do povo daquilo a que chamamos hoje Holanda ou Países Baixos da Espanha e então de Províncias Unidas (PU).

Começou de facto no momento em que os soldados de Madrid ocuparam o território e “oficialmente” um ano depois de o duque de Alba ter iniciado o seu consulado de terror.

As PU faziam parte do Império Espanhol e Filipe II (I para nós) toma duas decisões que darão frutos - exclui a aristocracia local do governo e esmaga ainda mais o povo com aumento de impostos, restrições à circulação, prisões indiscriminadas sobre a população calvinista, destruição de tempos de culto e assassinatos de opositores.

A revolta, liderada por Guilherme I, Príncipe de Orange, cedo toma estrutura e força.

São inúmeros os ataques ao ocupante, as batalhas campais, os assassinatos de personagens ligada a Madrid, a destruição de diques e tudo aquilo que vocês se lembrem.

Mal pagos, miseravelmente apoiados, a dois mil quilómetros da sua terra, os soldados espanhóis autonomizam-se e reivindicam o estatuto de “se poderem defender” arrasando tudo.

É o ponto mais alto daquilo que ficou nos livros como “O Terror (ou a Fúria) Espanhol (a)” e o saque de Antuérpia seu emblema.

Em 1576, as tropas entraram na cidade e destruíram tudo, igrejas, edifícios públicos, casas e mataram toda a gente, mulheres e homens de todas as idades.

Só sobreviveu quem não estava lá ou aqueles poucos cujos esconderijos não foram descobertos.

Provocou imediatamente duas respostas: a chamada Fúria Inglesa em Mechelen, no ano seguinte, um saque feito por mercenários ingleses e calvinistas e, sobretudo, a união dos pequenos poderes locais e o reconhecimento internacional do genocídio que haveria de conduzir poucos anos depois à criação de um território unido - os Países Baixos.

Devíamos aprender alguma coisa com isto, mas, duvido muito.