Opinião

Deliciosa fruta

30 mar 2025 10:49

A tradução de uma ideia em meia dúzia de palavras sempre me fascinou e para isso, evidentemente, é absolutamente necessário que exista ideia

Sem pretensão nenhuma de crítica literária ou leitura informada quero convidá-los a lerem um pequeno livro de poesia que a Livraria Arquivo editou. Intitula-se A Época da Laranja e é de um, para mim desconhecido, Mauro da Silva Pinto. Venceu em 2022 o Prémio de Poesia Francisco Rodrigues Lobo que a Arquivo e a Fundação Caixa de Crédito de Leiria promovem ou promoviam.

Espero ardentemente que o autor tenha continuado a publicar, embora nunca tenha tido o gosto de ler mais nada dele, porque A Época da Laranja é um conjunto de quarenta e dois poemas que eu tenho pena de não serem quatrocentos e vinte. São magníficos.

Vocês não sei mas eu desde que me lembro tive sempre um gosto especial em ler poesia e de quando em quando encontrar qualquer coisa de que me toca profundamente. A tradução de uma ideia em meia dúzia de palavras sempre me fascinou e para isso, evidentemente, é absolutamente necessário que exista ideia.

Dito assim parece coisa simples mas não é. Temos sempre, felizmente, oportunidade de regressar a gente que já visitámos com a tranquilidade garantida dos velhos encontros e a certeza dos seus prazeres sempre renovados mas o mais bonito é mesmo descobrir novos poemas, novos poetas que chocam contra nós e nos levam onde não pensávamos nunca ir.

O professor Carlos André tem uma notinha na contracapa que diz assim “Poesia feita de real, das coisas de todos os dias, das palavras de todos os dias, mas não da rotina de todos os dias, antes do inesperado que mora em cada esquina de cada dia. A Época da Laranja é um criativo exercício de desconstrução da poesia, cuja beleza assenta no enlace entre o quotidiano, a sucessão de imprevistos e a linguagem cuidada que o texto poético requer.”

Se fechar os olhos e fizer um pequeno exercício de memória chego facilmente à conclusão de que estas palavras se aplicam à esmagadora maioria dos meus poetas preferidos, aqueles que mais se afastam de uma espécie de “jogos florais”, jogos de palavras enlaçados em jogos de palavras numa prática quase setecentista, em que se transformou parte da poesia hoje.