O 3º olho

Já há muito tempo que sei que anda por aí gente com três olhos. Não tem nada de especial, nada de místico, religioso ou espiritual este 3º olho. É simplesmente o olho que permite ver coisas que nós mesmo com os nossos dois muito abertos estamos a ver mal.

Reparem por exemplo nisto: o Observatório de Segurança Interna (OSI) ilibou a 22.12 as forças policiais do uso de brutalidade na intervenção “especial” levada a cabo no Martim Moniz no dia 19.12 (Público 23.12). Diz entre outras coisas que “O cidadão comum não tem obrigação de conhecer ou compreender os procedimentos operacionais das forças de segurança. Esse desconhecimento, por vezes, gera críticas baseadas em interpretações subjectivas dos factos ou, em alguns casos, influenciadas por motivações políticas ou ideológicas”.

Só temos de agradecer o OSI continuar a olhar as coisas com um olho impermeável a qualquer influencia política ou ideológica. Logo o OSI que tão relevantes serviços presta à República. Ainda hão-de acabar com uma medalha ao pescoço.

O cidadão comum que viu uma quantidade de gente que não fez mal a ninguém espalmada contra a parede a serem revistados de alto abaixo viu muito mal porque fez uma interpretação subjectiva dos factos e não tem como o OSI um 3º olho com que observa a realidade objectivamente.

Infelizmente os cidadãos não percebem nada. Nem a tal estão obrigados, diz o 3º olho. Não tenho a certeza da localização deste olho prístino e impoluto mas sei que se abre assim que se ocupam posições de poder e se fecha assim que regressam ao mundo das pessoas, de tal modo que, por vezes, se parecem mesmo connosco.

Dói-lhe as costas de tantas horas sentado à espera de uma consulta no SNS? Ao menos não está a fazer disparates diz o 3º olho. As Escolas públicas ou estão na mesma ou ainda pior, precisam de funcionários, precisam de professores e materiais? Não está a ver bem, avisa o 3º olho, e escusa de dizer mais alguma coisa. Ora vire para lá esses dois olhos encharcados em política e ideologia.