Opinião
As ameaças da energia renovável
As piores consequências das alterações climáticas não se verificam à superfície terrestre, mas sim nos oceanos
A energia renovável, nas suas diferentes formas de energia eólica, fotovoltaica, hidroelétrica, geotérmica e, mais recentemente, biometano e hidrogénio verde, pode ser determinante para a descarbonização do crescimento económico. A importância de se assegurar a transição energética de todos os setores da economia é enorme, tendo em conta que as ameaças das alterações climáticas são uma realidade.
As piores consequências das alterações climáticas não se verificam à superfície terrestre, mas sim nos oceanos. As mudanças das correntes e a acidificação do oceano põem em risco todo o ecossistema marinho do qual todos dependemos, registando-se atualmente problemas de escassez de alimentos e condições de vida difíceis para espécies como moluscos.
As vantagens da energia renovável são reconhecidas, tendo existido diversos apoios públicos e investimento privado para aumentar a sua produção. No entanto, também se torna visível o impacte visual, sobretudo em projetos de grande dimensão. Os megaprojetos de centrais fotovoltaicas em zonas rurais ou em reservas naturais (ou nas suas proximidades) suscitam objeções quanto aos benefícios desses investimentos face aos impactes que causam na vida das pessoas e na biodiversidade.
O caso mais recente é o da central fotovoltaica Sophia, no distrito de Castelo Branco, cujo projeto prevê a ocupação de mais de 520 hectares, associada a dezenas de quilómetros de linhas de alta tensão necessárias para a ligação à rede. Neste contexto, as associações não governamentais, os municípios e os residentes manifestam-se perentoriamente quanto aos impactes visuais, nas atividades agrícolas desenvolvidas, no turismo e na caça, assim como na qualidade de vida das populações. Em termos de biodiversidade, também os impactes negativos são particularmente sentidos pelas aves de rapina, além do necessário abate de sobreiros e de azinheiras existentes na área prevista.
Também os parques eólicos geram impactes na paisagem e na biodiversidade, afetando rotas migratórias das aves e provocando a morte destas por colisão. Quando chegam ao fim de vida, tanto as pás das turbinas eólicas como os painéis fotovoltaicos não dispõem, ainda, de um destino adequado que permita a sua reutilização, recuperação ou reciclagem. Assim, o impacto prolonga-se ao longo de todo o ciclo de vida destas tecnologias verdes.
Garantir que a energia verde é vantajosa do ponto de vista económico é fundamental para a sua proliferação e substituição das fontes de energia produzida por combustíveis fósseis. No entanto, a minimização dos seus impactes ambientais e sociais tem de fazer parte da estratégia de proliferação e de massificação. Só assim existirá uma verdadeira descarbonização.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990