Opinião
A “Política” e o golo de Cristiano Ronaldo
Há “equipas” de políticos que “vão jogando” sem “treino” de vida, sem “visão de jogo”, sem qualidade de “passes”, sem respeito pelo adversário
1 – O célebre golo de bicicleta de Cristiano Ronaldo, no jogo Real Madrid/Juventus, para a Liga dos Campeões, em 3 de março de 2018, correu mundo. Com esse golo excecional Cristiano Ronaldo conseguiu algo raro no futebol e muito bonito de se ver: os aplausos de todos os adeptos presentes no estádio. Os do Real Madrid e os da Juventus.
2 – Ora, a nossa política, que carrega o pecado de estar a ser contaminada pelos modelos mais básicos da filiação clubística e, portanto, sem capacidade de discernimento ou pensamento crítico independente, deveria olhar para esse jogo como exemplo. Há uma geração de políticos que é de determinado partido pela mesma razão que é adepto de qualquer clube. Sem consciência crítica. Só animados pela adrenalina do jogo político, pura e simplesmente. Por isso, tão raro em política, como no futebol, são os aplausos unânimes, independentemente do clube, ou da filiação partidária, mesmo quando se faz um bom jogo, ou se faz boa política.
3 - Costuma dizer-se que devemos deixar a política para os políticos. Compreendo a expressão, quando vemos os chamados “políticos de carreira” em percursos de dezenas de anos. Com alguma razão de ser, é certo, porque as boas políticas fazem-se com boas experiências e há boas e excelentes pessoas que nos representam politicamente.
A questão é que, por outro lado, há “equipas” de políticos que “vão jogando” sem “treino” de vida, sem “visão de jogo”, sem qualidade de “passes”, sem respeito pelo adversário. Sobrevivem nos gabinetes ministeriais e no parlamento e vão subindo, desde que haja oportunidade para um cargo ou outro de maior relevância. São milhares deles, a que se juntam todos os que procuram um lugar ao sol nos “jogos” autárquicos. Desenrascam-se como podem e jogam quando lhes deixam.
4 - E como é gritante a falta de cultura! E, sim, refiro-me também à cultura tal como se entende comummente: à cultura da História, à cultura das Artes, à cultura da Literatura. À cultura sociológica, para compreenderem melhor a sociedade em que vivem, as suas necessidades e os seus desafios.
5 – E as contradições que se vivem com toda a desfaçatez? Há políticos que são adeptos dedicadíssimos dos ideais do emagrecimento do Estado e, portanto, de menos funcionalismo público, e, vai-se a ver, sempre têm vivido à custa do Estado, sem outra profissão conhecida que não sejam cargos públicos/políticos dependentes do erário público.
6 – O que a política precisa é de boas equipas, com bom jogadores e bons golos. Como o do Cristiano Ronaldo!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990