Opinião
A enorme distância do ensino à distância
O ensino à distância nunca irá atingir o impacto que a escola exerce no aluno no ensino presencial
Confesso que o cenário de olhar novamente para uma sala de aula sem alunos não estava presente no meu horizonte mais próximo.
O enorme sucesso na resposta que os portugueses deram à chamada para se vacinarem fez-me acreditar que o ensino à distância era algo que já vivia pretérito perfeito.
Mas a verdade é que os mais novos ainda não estão vacinados e isso acaba por deixá-los mais vulneráveis perante este maldito vírus.
O ensino à distância foi a única forma, durante a pandemia, de minimizar a ausência de aulas para os milhares de alunos que frequentam a escola diariamente.
Infelizmente este caminho encontrado para os professores chegarem aos seus alunos apresenta inúmeros pontos negativos que acabam por criar um fosso ainda maior nas dificuldades de aprendizagem, principalmente naqueles que mais precisam.
O recurso a um computador, o acesso à internet, o espaço tranquilo de trabalho em casa não é comum em todos os alunos que frequentam o ensino no nosso país e sem estas três condições básicas o ensino fica completamente comprometido.
Na verdade, o ensino à distância nunca irá atingir o impacto que a escola exerce no aluno no ensino presencial, uma vez que as aprendizagens de novos conteúdos são apenas uma das múltiplas variáveis no processo académico do aluno.
Os quatro pilares da educação: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser” são os conceitos fundamentais baseados no relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors.
Rapidamente chegamos à conclusão que a interação entre todos surge como um fator fundamental no relatório editado sob a forma do livro em 1999: Educação: Um Tesouro a Descobrir e que vale a pena ler.
É na escola que as crianças se conhecem, brincam umas com as outras e partilham as suas experiências.
Todas estas ações fazem parte da construção individual do ser e promovem o combate ao conflito, ao preconceito, às rivalidades milenares ou diárias. A escola atua como veículo de paz, tolerância e compreensão entre os cidadãos.
Por toda a importância e impacto que uma escola inclusiva exerce sobre os seus alunos e cidadãos, o ensino presencial deve ser aquilo pelo qual toda a comunidade educativa deve “lutar” e acreditar.
Deste modo, a aprovação da Agência Europeia do Medicamento para a administração da vacina contra a Covid-19 a crianças dos 5 aos 11 anos é uma excelente notícia para todos nós, mas principalmente para os alunos mais novos que poderão contar com as portas das suas salas de aulas sempre abertas mostrando uma vez mais que as escolas são instituições imprescindíveis para o desenvolvimento e para o bem-estar das pessoas, das organizações e das sociedades.
Como refere Domingos Fernandes, “a escola (e o ensino presencial) desempenham um papel fundamental e insubstituível na consolidação das sociedades democráticas baseadas no conhecimento, na justiça social, na igualdade, na solidariedade e em princípios sociais e éticos irrepreensíveis.”
Por uma escola de proximidade, de contacto e de abraços… sempre!
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990