Opinião

A gentileza também pode ser um ato de resistência social

11 dez 2025 16:33

A gentileza é um investimento de baixo custo e com alto retorno, alimenta a empatia, reduz o stress e cria um ambiente de confiança mútua

Numa época definida pela pressa, pela polarização e pelo ecrã, temos assistido a um perigoso desgaste do tecido social. É fácil ceder ao cinismo e à indiferença, transformando as interações diárias em meras transações. Contudo, a solução para reforçar a nossa comunidade e o nosso bem-estar individual pode residir, paradoxalmente, no mais simples dos gestos: a gentileza.

Não vos escrevo sobre grandes atos de altruísmos, mas sim da disciplina da civilidade aplicada ao dia a dia. Começarmos por agradecer sempre, cumprimentarmos o vizinho ou o colega que encontramos no corredor e com isso quebrar o isolamento silencioso que muitas vezes nos rodeia. Elogiarmos em vez de criticar, de reparar no bem feito em vez de apontar a falha. Esta mudança de foco, de uma perspetiva negativa para uma construtiva, pode ser um poderoso catalisador de bem-estar.

Quando oferecemos um elogio genuíno, ou quando simplesmente demonstramos gratidão, não estamos apenas a melhorar o dia da outra pessoa, estamos também a reprogramar a nossa própria perceção da realidade. A gentileza é um investimento de baixo custo e com alto retorno, alimenta a empatia, reduz o stress e cria um ambiente de confiança mútua. Numa comunidade onde prevalece a cortesia, os laços sociais são mais fortes, a solidariedade é mais espontânea e a capacidade de enfrentar coletivamente os desafios é inegavelmente superior.

Este imperativo de união contrasta de forma chocante com a retórica de alguns partidos políticos europeus, cujo modelo se baseia na fragmentação e no afastamento. Enquanto a gentileza procura pontes, a política do ódio ergue muros. A mensagem fundamental destes movimentos é a incitação à desconfiança entre as pessoas e a separação entre culturas, utilizando frequentemente o medo do “outro” para desviar a atenção de problemas estruturais.

Quando assistimos a slogans como “Portugal não é o Bangladesh” em cartazes de campanha, não estamos perante uma afirmação geográfica, mas sim uma perigosa incitação ao ódio. Este tipo de linguagem procura deliberadamente definir um “nós” puro contra um “eles” ameaçador, minando o valor da diversidade. O objetivo não é o patriotismo, mas sim a criação de um “apartheid cultural” que impede a coesão social e destrói o respeito mútuo.

Que as nossas palavras sejam de apreço, que os nossos gestos sejam de respeito, e que a nossa civilidade quotidiana seja a resposta mais firme contra quem deseja o nosso isolamento e a nossa divisão.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990