Viver
'Um Estranho por Dia', o projecto que está a apaixonar as redes sociais
A descobrir vidas normais, uma imagem de cada vez
Um retrato, um relato. A cada 24 horas, extraído entre a multidão anónima. Barbeiros, comerciantes, polícias, pedreiros, empregados de café, tatuadores, mecânicos, estudantes, pensionistas, imigrantes – e às vezes criminosos.
Desconhecidos que se tornam pessoas, com nome, rosto, vida própria, um passado, presente e futuro, uma história. Tem sido assim desde que quatro fotógrafos espalhados por Lisboa, Leiria, Algarve e Açores uniram esforços para materializar o projecto Um Estranho Por Dia.
Entre eles, Rui Miguel Pedrosa, de Leiria. A ideia está a apaixonar as redes sociais: 12 mil seguidores no Facebook e outros 4 mil no Instagram, números a crescer fruto da presença no programa Você na TV, da TVI.
A televisão (ainda) tem destas coisas: depois da entrevista com Cristina Ferreira, as pessoas desataram a enviar selfies e dados biográficos para os autores do projecto. Como num site de amizades cor-de-rosa.
Claro que nas ruas uns olham de lado e outros negam o convite, mas há sempre quem aceite a pega de caras com a objectiva. A notoriedade seduz, mesmo efémera na internet ou em conversa de circunstância.
E é do encontro entre estranhos que se faz magia, a provar através da imagem e da palavra que nenhuma impressão digital é igual a outra. Há a Mélina João, que emigrou para a Suíça com 19 anos e acabou mudada para sempre ao cuidar de uma mulher com tumor cerebral; a Vanísia Nascimento, que cresceu em Cabo Verde a ver anúncios da McDonald's e só provou o primeiro hambúrguer em Portugal, quando veio estudar gestão; a Elena, que se esconde atrás de um nome fictício na berma da estrada, enquanto pensa em voltar para os três filhos na Roménia; o Zé das Cabras, que aos 63 anos continua a pastorear nos Campos do Lis; e tantos outros, que o acaso vai colocando na mira dos fotógrafos, um dia de cada vez.
"Quanto estamos a falar com eles, somos quase psicólogos", diz Rui Miguel Pedrosa. Desde o primeiro dia de Dezembro, partilha a missão com Miguel Lopes, Rui Soares e João Porfírio.
Juntaram-se ao computador, depois de Miguel Lopes publicar a ideia no Facebook. E nessa mesma noite tinham o começo delineado. "Serve de desafio para nós", explica o fotógrafo de Leiria, que costuma deixar-se ficar, a observar, antes de escolher o próximo alvo.
Nem sempre é fácil perceber quem fica bem na fotografia, porque a fotogenia e a descontracção perante a máquina são atributos que só emergem com o teste do algodão. Já as boas histórias, costumam esconderse atrás da idade avançada.
Perfil
Nos bastidores com os Silence 4
Rui Miguel Pedrosa começou a fotografar concertos por paixão e os trabalhos que faz na área da música são na sua maioria gratuitos, daí que o convite para captar os espectáculos de Silence 4 no Pavilhão Atlântico e no Estádio Municipal de Leiria tenha caído como ouro sobre azul.
Correu bem: é dele a capa do álbum SongBook Live 2014. Uma porta leva a outra e a seguir dos Silence 4 vieram os registos com David Fonseca.
Ligado ao fotojornalismo desde 2008, sobretudo no Correio da Manhã, Rui Miguel Pedrosa trabalha também como freelancer.
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