Sociedade
"Temos talento, falta-nos descaramento"
Carlos Coelho, especialista em gestão de marcas, diz que Portugal “é uma marca extraordinária” e que quanto mais forte for mais os seus produtos serão valorizados
Portugal é uma boa marca?
Portugal é uma marca extraordinária. Tem um património extraordinário, mas está ainda adormecido. Tenho vindo a estudar a economia dos Descobrimentos para perceber o que permitiu a um País que tinha pouco mais de um milhão de pessoas descobrir dois terços do planeta, relacionar povos, pôr em causa teorias, desenvolver tecnologia, controlar os mares. É impensável, numa altura em que havia muito menos gente, e muito menos qualificada.
O que nos está a impedir, neste momento, de descobrir novos mundos?
Temos talento, falta-nos descaramento. Na altura dos Descobrimentos tivemos muito descaramento, coragem, inocência. Fomos movidos por dificuldades, e também as temos agora. Tivemos de partir para o mar porque não tínhamos terra. Era preciso descobrir para conquistar e ganhar dinheiro. Não havia uma vocação romântica nos Descobrimentos, mas uma necessidade concreta, uma ânsia de amplificar o território.
Uma marca Portugal forte traz mais-valias…
Temo-nos esquecido da importância da marca Portugal para o nosso futuro. Confunde-se nacionalismo com uma questão monárquica. Uma marca Portugal forte tem impacto na economia, significa que os produtos portugueses valem mais. Existem dois aspectos que seriam muito relevantes para a valorização da marca Portugal: um é provar de uma vez por todas que quem descobriu a América não foi Colombo, mas portugueses, os Corte-Real, muito tempo antes; e que quem descobriu a Austrália foram portugueses. Portugal alheia-se destes episódios históricos, considerados pequeninos, quando na realidade podem contribuir para trazer grandeza à marca do País. Há sempre uma discussão sobre olhar para a frente ou para trás. Acho que se deve olhar para os dois lados. É preciso modernizar, muito bem. Mas temos uma marca com quase 900 anos, não há nenhuma mais antiga no Ocidente. Temos de ir buscar essa história, temos de puxar dos galões. Fomos a primeira potência global, fomos os primeiros universalistas. Isso dá-nos um suporte muito importante para aquilo que a marca do País pode ser no futuro, para nos fazer descolar de Espanha. É pela história que temos de explicar que a Península Ibérica não é toda a mesma coisa.
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