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Teatro do Eléctrico encerra Sinopse com A Voz Humana, que também é um concerto rock
A actriz Patrícia Andrade, ex-vocalista da banda Sinistro, desequilibra o texto de Jean Cocteau, no último espectáculo do Sinopse, pelo Teatro do Eléctrico
A Voz Humana é, segundo o Teatro do Eléctrico, “um espectáculo de teatro e um concerto de rock”.
Esta quinta-feira, 30 de Junho, pelas 21:30 horas, vai a palco no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no encerramento do festival Sinopse.
“Em cena, dispondo-se a trabalhar sobre o arame e na vertigem de poder cair no erro, Patrícia prolonga a última chamada de uma mulher com o seu amante, consciente de que não tem controlo sobre aquela relação, enquanto tenta não ceder ao desespero de se ver diante do fim. Ao telefone ou ao microfone, de guitarra em punho ou deitada no chão, ouvimo-la testemunhar a morte de um amor”, descreve Gonçalo Frota, citado na comunicação do evento.
A partir do texto de Jean Cocteau, a co-produção do Teatro do Eléctrico com o Cine-Teatro Louletano é encenada por Patrícia Andrade e David Pereira Bastos e interpretada por Patrícia Andrade, também responsável pela música, a meias com Fernando Matias.
No foco da acção, encontra-se “aquilo que a maioria das pessoas passam pelo menos uma vez na vida, que tem a ver com um desgosto de amor”, explica Patrícia Andrade ao JORNAL DE LEIRIA, “o lado mais sofrido e mais negro da essência humana no seu estado de sublime sofrimento”.
A música é um elemento central na encenação.
“Como é que se pode trazer o ambiente de um concerto para dentro da formalidade teatral, essa foi a premissa”, comenta a actriz e ex-vocalista da banda Sinistro. “Como é que eu podia apropriar-me deste texto com elementos que estão intimamente ligados ao meu universo artístico”.
O resultado é um segmento em que está sozinha, no palco, perante a plateia.
“É libertador, é muito exigente, mas por isso mesmo desafiante, é escutar o que está volta, escutar-me a mim enquanto intérprete e é ter a capacidade de não me perder”, resume.
Para David Pereira Bastos, o espectáculo “tenta transformar aquela situação realista da mulher que está ao telefone com o ex-amante num objecto mais performativo”. E, deliberadamente, visita “o formato do concerto musical”.
“A irreverência do rock and roll”, assinala o encenador na conversa com o JORNAL DE LEIRIA, permite pegar no momento de alguém que sofre por amor e deslocá-lo “para a linha de leitura da superação em vez da comiseração”.
Há ambientes sonoros gerados pela sonoplastia de Fernando Matias e também canções inteiras interpretadas e cantadas ao vivo.
O espectáculo “desequilibra o emblemático texto de Jean Cocteau”, lê-se na sinopse, “um monólogo em que uma mulher fala ao telefone com o seu amante, que nunca ouvimos”.
“No dia seguinte, ele irá casar-se com outra mulher. A chamada cai algumas vezes e a conversa é interrompida nos momentos de maior vertigem. No que é uma aparente banalidade doméstica, testemunhamos um verdadeiro “mise en abîme” desta mulher abandonada pelo seu companheiro”, adianta o press release do Teatro do Eléctrico.
“Uma actriz, um microfone num tripé e uma guitarra. Uma voz que fala, grita, chora, geme, sussurra e esvai-se. A voz canta simultaneamente o inconformismo e a resignação, a revolta, o desespero e a fragilidade, num grito abafado de uma pessoa que luta para não se afogar”.
A Voz Humana é um espectáculo com 50 minutos de duração, para maiores de 16 anos.
Os bilhetes, ainda disponíveis, custam 8 euros para o público geral e podem ser adquiridos online, neste link.