Desporto
Sonho de Dénis vai-se cumprindo neste mundo tantas vezes cruel
Futebolista de Leiria foram notícia neste semanário quando tinha 10 anos e um mundo de fantasias por cumprir. Volta a estas páginas 13 anos depois, já atleta profissional.
Há quase 13 anos, na edição de 16 de Agosto de 2007 deste mesmo semanário, a jornalista Maria Anabela Silva pegou nas histórias de quatro muito jovens talentos. Um tinha uma “paixão imensurável” pela música. Outro, “adorava” números. Ela possuía um ”grande fascínio” pela dança. E havia, também, um “doido” por futebol. Um doido que contrariou as probabilidades e se fez jogador profissional.
Paixão pelo pontapé na bola é, de resto, um denominador comum aos miúdos deste País. O sonho de poder vir a ser um dia futebolista profissional pulula na cabeça de rapazes e, cada vez mais, também de raparigas.
É, até, um tema controverso, já que os pais, muitas das vezes, entusiasmam-se mais do que os próprios filhos e tornam a prática saudável de desporto num momento de stress e frustração.
Esta é uma palavra que não consta no vocabulário de Dénis Martins. Ele é o rapaz de quem se falou nestas páginas há mais de uma década, tinha então 10 anos e jogava no Benfica. Não se sabia se ia ser capaz de cumprir o objectivo, mas hoje já não há dúvidas. Ele é um dos 800 futebolistas das competições profissionais em Portugal.
E tudo começou no Leiria e Marrazes aos sete anos, próximo de casa. Mudou-se para a União de Leiria e foi aconselhado por um olheiro a fazer uns testes do Benfica. Os pais levaram-no de surpresa à Luz e, de três mil candidatos, foram escolhidos dois, ele e outro.
Aos nove anos já jogava no clube do coração, mas esta vida nova “implicou mudanças significativas” no quotidiano a família.
Os pais sempre “fizeram tudo” para que o sonho do miúdo fosse cumprido. Todas as terças e quintas-feiras, Denis deslocava- se a Lisboa para treinar, sempre acompanhado pela progenitora.
"Era muito duro, principalmente para a minha mãe. Eu saía da escola mais cedo, lanchava pelo caminho e ela já levava o jantar pronto para comer quando estivéssemos a regressar”, recorda o futebolista.
Já vivia há dois anos no luxo da Academia do Seixal quando, aos 14 anos acabou por ser dispensado. Ficou “triste”, regressou à União de Leiria, mas não deixou de acreditar. “Sabia que estava no bom caminho e foi precisamente esse ano que fui chamado pela primeira vez à selecção nacional.”
O resto do processo formativo foi feito no Vitória de Guimarães, acabou por somar nove internacionalizações, mas sentiu diferença entre as condições oferecidas no Seixal e no Minho.
“Em termos de infra-estruturas, de alimentação, não tinha nada que ver. O Benfica tem das melhores condições do mundo. Mesmo assim corria tudo bem, sabia que tinha sucesso e acreditava em mim. Estava no bom caminho.”
Ao longo deste percurso, Dénis conheceu milhares de futebolistas. Jogou com talentos inacreditáveis, a quem se auguravam futuros ímpares. A verdade, porém, é que poucos chegaram à meta. Ele também passou por dificuldades, esteve emprestado, faltaram-lhe chances, mas foi resiliente.
“O mais normal é não se conseguir chegar a profissional. Só uma minoria consegue. Joguei com futebolistas incríveis que acabaram por ficar pelo caminho. Felizmente, consegui”, conta o defesa-central, de 22 anos.
“A oportunidade surge do talento, do trabalho e da sorte. Sem os três factores, nada feito. E estar sempre ao lado das pessoas certas., porque se um treinador da nossa cara pode deitar uma carreira no lixo”
É no Vilafranquense que joga actualmente. Tem sido um indiscutível da equipa ribatejana que tem conseguido estar fora dos lugares de despromoção da 2.ª Liga portuguesa, o grande objectivo para a época de estreia nas competições profissionais de futebol.
Com três golos marcados, o defesa-central de 22 anos tem-se destacado em ambos lados do campo. Foi, de resto, considerado o melhor jogador jovem da competição nos meses de Outubro e Novembro. Por isso, era natural que houvesse emblemas de maior dimensão atentos às exibições do futebolista até a pandemia fazer um shutdown ao desporto nacional.
Dénis já vestiu a camisola das quinas mas ainda tem dois objectivos por cumprir. O primeiro é chegar à 1.ª Liga. Depois, uma aventura no estrangeiro. Para já, quer o que o futebol regresse o mais rapidamente possível.
Sente falta dos treinos, dos jogos da bola a rolar e até das viagens com os outros leirienses do plantel: Pepo, Izata, Filipe Oliveira, João Vieira e China. A certeza é que tudo vale a pena quando se corre por um sonho maior.