Economia
Serras de Sicó e de Aire e Candeeiros podem esconder trufas com valor de mil euros por quilo
Florestas de espécies autóctones como os carvalhos, sobreiros, azinheiras são ideais para estes fungos comestíveis
Parte do território português deverá reunir condições para o desenvolvimento de trufas, um fungo muito apreciado na alta gastronomia, extremamente caro e que cresce junto às raízes de algumas árvores.
Segundo uma publicação no site do semanário Expresso, a zona geográfica onde será possível a exploração desta iguaria, das mais caras da culinária mundial e cujo preço, geralmente, é de mil euros por quilo (valor para a Trufa Negra de Inverno, Tuber melanosporum) é a zona Centro, entre as Serras de Sicó e as Serras de Aire e Candeeiros.
Nestas áreas que têm usufruído de alguma protecção, a proliferação descontrolada de eucalipto ainda não destruiu os solos e há concentração de espécies autóctones como os carvalhos, sobreiros, azinheiras e até alguns castanheiros.
Segundo o Expresso, uma equipa com cães caçadores de trufa esteve a fazer prospecção deste ingrediente muito procurado na alta cozinha italiana e francesa.
Os investigadores vieram de Itália a convite do chef Tanka Sapkota, que trabalha com trufas há 30 anos, com o objectivo de encontrar trufa negra ou bianchetto, trufas de valor menor quando comparadas com a exclusiva trufa branca encontrada na região de Alba, em Itália.
Caso sejam encontradas estas espécies, "já mobilizava muita coisa, teríamos florestas mais limpas, a ecologia a funcional e a economia local mudava completamente", explica o chef, citado pelo semanário.
Para o desenvolvimento deste fungo, são necessários solos calcários, de pH neutro ou alcalino e vegetação e clima adequados.
Para já, foi encontrada trufa vermelha, que também é comestível e tem um bom sabor.
Parte da prospecção foi realizada no concelho de Ansião, na Serra de Sicó, distrito de Leiria, território de fronteira referenciado, onde existem quercus (árvores da família dos carvalhos) de folha caduca e quercus de folha persistente.
A ocorrência de trufas com valor económico e gastronómico deve acontecer nestas grandes manchas de bosques autóctones que, segundo os especialistas presentes em Novembro na Convenção da Bolota, deveriam ser alvo de protecção especial, por serem os últimos em Portugal.
Em relação aos eventuais impactos nas florestas autóctones, tratando-se de espécies silvestres, que podem ser povoadas manualmente, os especialistas sublinham que é essencial a reposição do solo ao estado original, no seguimento da detecção de uma trufa pelos cães e após a colheita, para que os fungos se continuem a produzir, evitando a sobre-exploração.