Desporto
Sergiu Renita: “O nosso objectivo é simples: chegar ao topo e lucrar com isso”
O director da SAD da União de Leiria fala dos problemas, assume as dívidas e garante que o projecto pessoal de Alexander Tolstikov não vai acabar.
Mais um ano e a União Desportiva de Leiria (UDL) não subiu de divisão. O que se passou?
Entendemos que toda a família unionista tenha sentido o momento, porque ano após ano falhamos a subida no último jogo. Tem de se ter estômago para se ser adepto da UDL. A nossa dor é muito grande. Encontrámos aqui gente muito pura, sem qualquer interesse pessoal. Mas, infelizmente, tarda em existir um entendimento entre a Direcção do clube e os dirigentes da SAD.
O projecto do investidor Alexander Tolstikov continua a fazer sentido?
É preciso recordar como tudo começou. No Verão de 2014, o Alexander já tinha anunciado que estava à procura de um clube onde pudesse aplicar o projecto da sua vida, que era investir num clube que tivesse infra-estruturas, porque a ambição era chegar o mais alto possível. Seria mais fácil investir num clube com pouca história, onde as pessoas não tinham memória de êxitos e aí nem teria 1% dos problemas. A UDL tinha um potencial enorme, mas com um histórico recente tanto de êxitos como de turbulência e isso não correu da melhor forma.
Porquê?
No primeiro ano, o Alexander foi só um investidor e investiu cerca de 375 mil euros, ainda sem haver SAD. Depois, foi posto ao escrutínio dos sócios fazer uma SAD para continuar a investir forte na vertente desportiva, profissionalizar a equipa de seniores e apostar na subida de divisão. No primeiro ano da SAD, em termos desportivos estava a correr tudo bastante bem, mas em termos de organização encontrámos resistências da parte dos fornecedores, que por desconfiança exigiam pagamentos antecipados. Entendemos e percebemos que precisávamos de mostrar quem somos. Não havia atrasos e pagávamos tudo a tempo e horas. Mas, de repente, acontece a Operação Matrioskas, que foi um estrondo inesperado, que abalou o projecto, mas não a ambição do Alexander. É impossível passar por um processo judicial, com prisão preventiva, sem deixar sequelas. A magnitude mediática foi enorme. Chegou inclusive à CNN. A UDL viu a sua vida completamente enxovalhada, na lama. Mesmo que se fique ilibado das suspeições, na memória da sociedade civil permanece a dúvida. Toda a gente naquela altura falava: aqueles “russos”... Curiosamente, só há um na SAD e é quem investe dinheiro.
De que forma esse processo abalou o projecto?
As contas foram bloqueadas. Faltavam duas jornadas do playoff, onde bastava à UDL ter duas vitórias. Acreditamos que se não houvesse a Operação Matrioskas, que não só nos abalou como a toda a equipa, que não sabia o seu futuro nem se iria receber salários, poderíamos ter subido. Não sabíamos quanto tempo íamos ficar detidos e, mesmo na prisão, começámos a preparar a época. Sabíamos que estávamos inocentes e que o engano não iria prolongar-se muito tempo. Acabámos por não ter a possibilidade de escolher os melhores, porque esses já estavam contratados. Mesmo assim, conseguimos dar a volta e chegar ao último jogo do campeonato com reais possibilidades de passar ao playoff. Na minha opinião, isso demonstra competência. Depois surge aquela situação do Carapinheirense, um resultado passível de diferentes interpretações, e por diferença de golos não passámos. Decidimos fazer um trabalho mais profundo na época seguinte, que foi brilhante e culminou com um estádio praticamente cheio, num jogo decisivo, onde, infelizmente, não tivemos a estrelinha da sorte. Naquele momento, sentimos uma desilusão enorme nas pessoas. Foi outro murro no estômago. Cada ano nesta divisão, o Alexander gasta dinheiro, num projecto que também é comercial. Ele nunca escondeu. Investe dinheiro para um dia vir a ganhar.
Fala-se em lavagem de dinheiro...
Se houvesse lavagem de dinheiro não se tinha arquivado o processo. A suspeita tem que ver com o facto de ser um russo e há essa conotação da ligação à máfia. É um preconceito que tem que ver com os novos ricos que apareceram no início dos anos 2000 a comprar clubes de futebol.
Há dúvidas de onde vem o dinheiro de Alexander Tolstikov.
Ele desenvolveu actividades empresariais lícitas no seu país de origem e noutros países que lhe trouxeram ganhos consideráveis. Além disso, faz um trabalho forte na procura de financiamento e tem conseguido, mesmo não sendo fácil. Ele tinha duas soluções: ou desperdiçava tudo o que tinha investido ou continuava. Conhecendo-o como conheço, sei que não vai desistir. É também uma questão de honra. Não conheço um guerreiro maior do que ele, que continua a lutar sem tréguas há cinco anos, longe da família, mesmo com os ataques que tem sofrido de todo o lado, incluindo os de dentro da UDL. Não podemos esquecer que a Operação Matrioskas começou com uma denúncia anónima. Mas para se entender melhor temos de apontar umas coisas. O Alexander pagou todas as dívidas do clube: cerca de 396 mil euros à Segurança Social e à Autoridade Tributária. O clube ficou completamente limpo e com a declaração de não dívida teve a possibilidade de aceder a apoios e, claro, passou a ser apetecível para muitas pessoas.
A vinda de Alexander foi positiva para o clube?
Perguntem ao então presidente Rui Lisboa se caiu bem ou não a possibilidade de haver um investidor. Ele sabe bem o que custa sustentar uma equipa de seniores. Sobretudo se quiser subir de divisão, precisa de muitos recursos. Foi mesmo dito que a entrada de Alexander foi, na altura, um autêntico jackpot para a UDL, que podia ter ficado sem futebol sénior. Sempre tivemos muita atenção à formação. Vários miúdos chegaram aos seniores e fizemos regressar jovens que se formaram na UDL e com quem o público leiriense se identifica. Tentámos devolver a mística ao clube. Foi assim que jogadores como Benny e Afonso transitaram para os seniores, que o Bruno Jordão, com 16 anos, teve oportunidade de se estrear e mostrar o seu talento, entre outros. Tirarem-nos agora os juniores foi um golpe forte, que lamentamos.
Mas os problemas financeiros começaram a surgir.
Não escondemos os problemas financeiros que o projecto atravessou durante esta época e lutámos até ao fim para dar as condições necessárias aos atletas. Os nossos jogadores, mesmo com alguns atrasos de pagamentos, não morriam à fome, como se dizia. A porta estava sempre aberta para o que eles precisassem e sempre procurámos resolver no imediato os problemas.
Mas, por que faltou o dinheiro?
O dinheiro não cai do céu. Trata-se de um investimento a rondar um milhão de euros por época, dos quais cerca de 300 mil euros são pagamentos à Autoridade Tributária e à Segurança Social. E isso está c
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