Opinião

Renascimento Europeu

5 abr 2016 00:00

Nuno Reis

renascimento-europeu-3618

A Páscoa é uma época do ano particularmente adequada à reflexão sobre o que foi feito, o que acaba e o que recomeça. Afinal, a Páscoa cristã, que é celebrada em Portugal, bebe muitas das práticas dos rituais pagãos pré-cristãos que comemoravam a chegada da Primavera. Assim, a Páscoa marca, também, a fertilidade de fauna e flora, os dias longos e a luz crescente.

E foi ao pensar em renascimentos que pensei na União Europeia. A União Europeia está moribunda. Do projeto de integração que começou nos anos 1950 hoje não resta nem o nome, nem os valores nem os objetivos. Restam apenas apêndices folclóricos cuja origem e objetivo ninguém consegue já explicar.

Mas, como acontece com a maioria dos objetos que marcam tradições, é importante que se mantenham porque…  é assim que tem que ser. Mesmo que a tradição tenha sido de tal modo desvirtuada que não aproveita a ninguém e faça tanto sentido como aulas de geografia dadas por concorrentes de reality shows.

Da “União Europeia” sobra o euro e a livre circulação de bens e capitais (a bem dos sacrossantos mercados!). A moeda única, símbolo da unidade dos países, tem trazido grandes benefícios às economias com excedente comercial do centro da Europa – e enormes prejuízos para os restantes.

Apesar de serem patentes os problemas, o objeto folclórico mantém-se intocável e imutável: se há problemas é porque as pessoas não estão a seguir a tradição com força e fé suficientes, nunca em momento algum pode ser da tradição. Já a circulação de pessoas parece não ter pegado como tradição.

Sucedem-se as “suspensões temporárias” do Acordo de Schengen, procurando conter os problemas longe (atualmente, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Noruega e Suécia reintroduziram os controlos em algumas ou todas as suas fronteiras).

Aliás, numa fascinante manobra política – que ficará para os anais da História como uma enorme barbaridade – a “União Europeia” procura enviar os seus problemas para mais longe, PAGANDO à Turquia (esse bastião dos direitos humanos e da democracia) para ficar com os indesejados refugiados do Médio Oriente. Será que é possível fazer renascer uma comunidade de Estados Europeus?