Sociedade
Região de Leiria e Câmara contra desvios no traçado da Linha de Alta Velocidade
Municípios alertam que novo trajecto significaria "anular anos de estudos técnicos, avaliações ambientais e decisões de planeamento democraticamente validadas”

A Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL) e a Câmara de Leiria estão contra a tentativa de alteração ao traçado da Linha de Alta Velocidade (LAV) Porto-Lisboa.
Segundo o Município de Leiria, que manifesta a sua “firme e total oposição”, esta alteração “retiraria da Região de Leiria a estação projetada para a Barosa, em benefício de propostas alternativas sem fundamento técnico ou estratégico”.
Num comunicado, a CIMRL também demonstrou “perplexidade e total oposição à notícia que dá conta da apresentação de uma proposta alternativa para o traçado” da LAV, que prevê a passagem pela margem esquerda do Tejo, “deslocalizando a estação projectada” para a zona da Barosa, em Leiria, e próxima da Marinha Grande, “em alegado benefício de localidades do Médio Tejo e Santarém, e afastando a LAV da Região de Leiria e do Oeste”.
Para os municípios da CIMRL, “esta proposta, desenvolvida por interesses económicos privados e com o patrocínio da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), embora legítima, não acrescenta qualquer valor ao processo em curso, antes introduzindo confusão e aleatoriedade num projeto nacional já sujeito a sucessivos atrasos”.
A CIMRL sublinha que a denominada Fase 2: Troço Soure-Carregado, que integra a estação Leiria/Marinha Grande (Barosa, Leiria), já obteve em Julho a “declaração de impacte ambiental positiva, que permite avançar com uma obra de cerca de 115 km de via dupla eletrificada, orçada em aproximadamente 2 mil milhões de euros e com prazo de execução previsto de quatro anos”.
Assim, a eventual alteração do traçado agora proposta “significaria anular anos de estudos técnicos, avaliações ambientais e decisões de planeamento democraticamente validadas”.
Integram a CIMRL os municípios de Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós.
À espera da ferrovia
A Câmara de Leiria acrescenta, num comunicado, que “esta infraestrutura é demasiado importante para o futuro do País e para o equilíbrio territorial para ser condicionada por interesses particulares”.
A autarquia sublinha que a região de Leiria e o Oeste “aguardam há décadas por uma ferrovia que responda à sua dinâmica económica, industrial e demográfica”, pelo que a LAV é “uma oportunidade de reposição de justiça territorial e de correcção de um atraso histórico”.
“Qualquer desvio do traçado agora definido significaria afastar a LAV de uma das regiões mais dinâmicas do país, prejudicando gravemente a coesão territorial e comprometendo a racionalidade técnica e económica do projecto”, reforça a nota de imprensa da Câmara de Leiria.
O município desafia todos os deputados eleitos por Leiria, “independentemente da sua cor partidária, e todos os candidatos à Câmara Municipal de Leiria, se juntem também nesta posição firme, colocando os interesses do concelho e da região acima de qualquer agenda partidária ou eleitoral”.
E apela ao Governo e às entidades responsáveis para “rejeitar de forma inequívoca qualquer tentativa de reabrir um processo que está definido e que deve agora avançar sem mais desvios”.
Também a Associação Empresarial da Região de Leiria - Câmara de Comércio e Indústria (Nerlei - CCI) já assumiu publicamente a sua total oposição a qualquer alteração do traçado, defendendo, lado a lado com o município, os superiores interesses de Leiria e do Oeste.
Proposta defende a passagem da linha pela margem esquerda do Tejo
A CIM do Médio Tejo manifestou satisfação pela existência de uma proposta alternativa para o traçado da LAV no acesso ao novo aeroporto de Lisboa, previsto para Alcochete, destacando benefícios em termos de coesão territorial, adiantou a agência Lusa.
“Foi-nos apresentado um trajeto que beneficia a região e, diria mais, todo o interior, com um sentido de coesão territorial e de valorização do Médio Tejo”, disse à Lusa o presidente da CIM, Manuel Jorge Valamatos, na sequência de uma reunião com os promotores da proposta.
O estudo para um novo traçado entre o Porto e Lisboa, correspondente à ligação entre Soure e Carregado e apresentado aos autarcas do Médio Tejo, foi desenvolvido pela GV Consultores de Engenharia em parceria com a ADFERSIT – Associação para o Desenvolvimento dos Transportes em Portugal e a CIP.
O documento defende a passagem da linha pela margem esquerda do Tejo, beneficiando directamente localidades como Santarém, Almeirim, Ourém e Fátima, bem como várias cidades do Médio Tejo, entre as quais Entroncamento, Tomar e Abrantes, estendendo a ligação a Castelo Branco, Covilhã e Guarda.
A proposta prevê subestações intermédias de Leiria/Fátima e Santarém que respondem a dinâmicas regionais e turísticas, como o turismo religioso em Fátima, estimando captar parte dos cinco milhões de visitantes anuais, e o desenvolvimento industrial em áreas como Marinha Grande e Leiria.