Sociedade
Quando as saudades falam mais alto
"Dêem uma volta ao bairro e ‘percam-se’ nos transportes", aconselha o psicólogo Luís Filipe
Momentos de tristeza, ansiedade, sentir-se angustiado, meio perdido e com saudades da família e dos amigos são emoções comuns a quase todos os caloiros, sobretudo para aqueles que deixam pela primeira vez o ‘ninho’.
Três psicólogos estão disponíveis para quem necessitar, através do Serviço de Apoio ao Estudante (Sape) do Politécnico de Leiria, que funciona de forma gratuita e completamente confidencial.
Sandra Alves e Luís Filipe, dois dos psicólogos, asseguram que tudo o que for confidenciado não sairá das paredes dos gabinetes, mesmo que alguns problemas possam estar relacionados com docentes.
Sandra Alves reconhece que há “sentimentos que não podem ser evitados” e que “fazem parte de uma transição”. “Pensam que mais ninguém sente a sensação de vazio e desorientação completa. Até mesmo os que vivem em Leiria passam por isso, porque tudo é diferente. Há muitos alunos angustiados, mas não falam sobre isso”, afirma a psicóloga.
É possível, contudo, mitigar estes sentimentos. “Custa um pouco no início, mas com o desenrolar do tempo as coisas correm melhor e os jovens criam novas famílias”, acrescenta Luís Filipe, apontando como estratégias sair, conhecer pessoas e ir tentando fazer amizades.
“Não vão ser logo os melhores amigos do mundo, mas é proibido isolarem-se”, alerta, recomendando o “uso e abuso” de aplicações como o google maps.
“Dêem uma volta ao bairro, conheçam o que está à volta e ‘percam-se’ nos transportes.” As associações de estudantes e as suas actividades são também soluções que ajudam à integração e a combater o isolamento.
O psicólogo acrescenta que “andam todos a vender a noção da psicologia positiva, que vai correr tudo bem e se fizeres isto desta maneira vais ser um grande empreendedor”.
“É mentira. Só algumas pessoas é que chegam lá. O segredo da saúde mental é sabermos que vamos ter dificuldades, que vamos ter desilusões, que não está tudo bem, vamos sofrer, mas temos de encontrar ferramentas para aprender com essas situações, ultrapassá-las e tentar que não voltem a suceder”, explica.
Sandra Alves reforça que os jovens terão de “esperar desilusões, porque elas vão acontecer” e aponta as redes de suporte como fundamentais para superar alguns problemas.
“Também se deve estar atento à necessidade da outra pessoa. Acredito que o apoio mútuo faz a diferença.”
Ao longo do ano lectivo, os estudantes vão ter momentos de maior ansiedade e stress, que coincidem com a realização das frequências e exames e com o prazo de entrega dos trabalhos. Luís Filipe refere que “não há como evitar a ansiedade e a pressão do teste”.
“Ajudar a definir prioridades, a tomar algumas decisões, a lidar com as expectativas e a frustração, contribuem para a prevenção dos problemas”, afirma.
À semelhança do psicólogo, que defende que deve haver sempre tempo para as saídas e convívio, Sandra Alves aponta a organização como uma forma de minimizar o stress.
“Um dos segredos é não adiar. Fazer já. A comunicação também é importante. Muitas vezes, a sua falta gera conflitos nas equipas de trabalhos de grupo”, afiança.
Apesar de considerar que os jovens de hoje estão menos autónomos, Luís Filipe, constata que “estão mais conscientes da sua saúde mental e das suas dificuldades”, o que os leva a procurar ajuda com maior facilidade.
No entanto, os psicólogos exemplificam alguns sinais de alerta: irritabilidade, insónia ou dormir mal, perda ou ganho repentino de peso, reagir de forma agressiva a críticas, tristeza, ataques de pânico frequentes, deixar de ir às aulas e estar sob o efeito constante de álcool ou drogas.
O contacto com os psicólogos é fácil: os e-mails estão acessíveis na página do SAPE do Politécnico de Leiria, onde estão também disponíveis alguns folhetos digitais, que podem funcionar como ferramentas para enfrentar algumas dificuldades.