Sociedade
Populações de Leiria e de Pombal queixam-se de invasão de moscas
"É uma coisa preta nas janelas, nas portas e no chão. Não consigo viver assim”
O cenário repete-se um pouco por todo o lado. Milhões de moscas zumbem nas paredes e dentro de casas, estabelecimentos comerciais, oficinas e ao ar livre.
O fenómeno está a tornar-se cada vez mais recorrente, em especial nas épocas do ano onde as altas temperaturas coincidem com humidade abundante.
Abril-Maio, na Primavera, e Outubro, na recta final do ano. Com a agravante de que, esta época, é marcada por espalhamento de dejectos animais e efluentes nos campos agrícolas.
“Sismaria, Monte Redondo e no Vale do Lis, em geral, há moscas por todo o lado. É uma coisa preta nas janelas, nas portas e no chão. Não consigo viver assim”, diz Manuel Crespo.
O comerciante que habita e tem um espaço comercial na zona do Vale do Lis diz que tem visto muitos camiões a levar estrume para espalhar nos campos e atribui responsabilidades a quem não faz o seu enterramento.
No lugar de Vale Coimbra, no concelho de Pombal, Noélia Monteiro e os vizinhos também se queixam de uma “praga de moscas” que, desde a semana passada, lhes invadiu as casa.
“Habito aqui há mais de dez anos e isto aconteceu sempre, mas não me lembro de ter esta intensidade e dimensão”, garante a moradora que imputa responsabilidades ao espalhamento de estrume de galinha, misturado com ovos e carcaças de animais, num terreno limítrofe. Após ter visto um agricultor a espalhar os dejectos, as moscas começaram a aparecer.
Na quinta-feira, “em desespero”, fez queixa à GNR de Pombal que terá informado os serviços do SEPNA.
“Na sexta-feira, o senhor voltou a espalhar estrume e voltei a ligar à GNR que prometeu que passaria alguém num prazo de três dias”, conta a moradora, sublinhando que teme pela saúde das filhas e dos vizinhos idosos.
O marido de Noélia acabou por ir falar directamente com o agricultor e este fresou o terreno, mas o alívio não se fez sentir e o casal acabou por contactar a presidente da Junta de Freguesia de Pombal.
“Esse espalhamento pode contribuir para o problema naquele local, mas estamos a notar um aumento significativo de moscas na maior parte da freguesia de Pombal”, refere Carla Longo.
A autarca foi informada que a GNR e o delegado de saúde de Pombal irão ver o que se passa em Vale Coimbra. “A causa é o calor e humidade anormais que temos estado a sentir”, acredita a presidente da junta, salientando que, noutros pontos do território à volta, o problema também se está a sentir.
“No ano passado, por esta altura, houve um aumento de moscas, mas este ano, além da temperatura elevada, tem havido muito mais chuva, humidade e alimento disponível, que são ideais para as larvas de mosca”, reconhece.
Emanuel Rocha, ecologista e porta-voz d’Os Amigos do Arunca, diz que este é mais um efeito negativo da alteração do clima.
“Temperaturas em Outubro de mais de 20º e menos de 30º, que nos permitem andar de manga curta e humidade de 70 a 80º, também são boas para a proliferação de insectos como as moscas e de fungos”, afirma, sublinhando que se trata também de uma época do ano onde, tradicionalmente, os agricultores adubam os solos com estrume.
Tudo junto, é a receita ideal para a explosão de moscas.
“Quem espalha, é obrigado, no prazo de 24 horas, de enrolar tudo em terra, para evitar os maus cheiros e os insectos. Mas isto mostra-nos que é evidente que estamos perante uma mudança e um problema.”
Enquanto a temperatura não baixa, a presidente da Junta de Pombal que, explica, também está a sofrer com este problema, sugere aplicar um biocida nas paredes e restantes superfícies e tentar manter tudo o mais limpo possível, sem restos orgânicos nas proximidades dos lares. “Percebo muito bem aquilo por que as pessoas estão a passar, porque também tenho esse problema em casa”, diz Carla Longo.