Palavra de Honra | "Todos temos direito à vida, mas nem todos deviam ter direito a mostrar que estão vivos"
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Palavra de Honra | "Todos temos direito à vida, mas nem todos deviam ter direito a mostrar que estão vivos"
20 jul 2025 10:05
Ana Luísa Costa, Copywriter

Já não há paciência... para a desumanidade. Os caga-tacos que começam as guerras não têm mulheres em casa? Se eu dissesse à minha mãe “vou estar fora uns tempos a matar 57.000 palestinianos, sobretudo crianças”, levava um chapadão que nunca mais me endireitava.
Detesto... o politicamente correto, restaurantes com buffet e anjos. Também detesto o preço do camarão tigre, mensagens de áudio, homens com calções justos e que me perguntem "o que é que estás a pensar".
A ideia de... não ter vizinhos é o mais próximo que tenho de um sonho. Eliminar pessoas dos lados, de cima e de baixo, é para mim tão sexy, como no porno as acrescentarem em todos os buraquinhos disponíveis.
Questiono-me se... regressar a Leiria após 21 anos a viver em Lisboa será uma boa ou má decisão. Por um lado, tenho a família por perto, por outro lado tenho a família demasiado perto, tal como 5 ex-namorados (arredondei).
Adoro... o silêncio, o campo, vinho de todas as cores, animais, música que não passa na rádio, fotografia(s), a minha filha, a minha mãe e o meu cão velhinho que adoptei em fevereiro, que estava a chorar nas fotos da associação e, afinal descobri que tem conjuntivite crónica.
Lembro-me tantas vezes... de que a vida tem de ser mais do que isto. Devia estar a salvar ursos polares, crianças, abelhas e sementes, a roer laranjas na falésia em Porto Covo e a ensinar pessoas com QI baixo a reciclar.
Desejo secretamente... a morte a algumas pessoas. Não sou má. Também desejo ficar estupidamente rica e não acontece, portanto, é um desejo sem consequência graves. Infelizmente.
Tenho saudades... da minha avó Alice, do meu avô Quim, do meu irmão Jaime e até do meu pai. Tenho saudades de ser pequenina e de estarem todos vivos, até o meu pai.
O medo que tive... durante anos, enquanto acreditei que os meus avós estavam no céu a olhar para mim. Tornou-se perturbador quando arranjei o primeiro namorado.
Sinto vergonha alheia... quando vejo televisão. Eu sei que todos nós temos direito à vida, mas nem todos deviam ter direito a mostrar que estão vivos.
O futuro... é a Alice, a crescer livre e rebelde, ainda com direito ao voto, com a perspectiva de um salário melhor do que o meu, segura e independente na sua condição de mulher, com um taser rosa na mala e o coração no sítio certo.
Se eu encontrar... o cartão de sócia do INATEL da minha mãe, vou queimar. Não aguento mais umas férias a confraternizar com hóspedes cuja média de idades é 88,5, que falam de doenças, dos netos e do tipo de fezes.
Prometo... ser mais tolerante com as pessoas. Mesmo com as que considero inferiores por votarem em coisas que desprezo.
Tenho orgulho... por ter sobrevivido a um parto sem epidural, tal como a minha mãe, a minha avó, bisavó, avó das cavernas, etc. Sinto que pertenço a uma seita de mulheres selvagens que comem homens ao pequeno-almoço.