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Palavra de Honra | Continuo a acreditar na força dos que sonham

10 ago 2025 09:35

Alexandra Neves, empreendedora social

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Já não há paciência... para o ruído vazio, para os egos que atropelam o bem comum. Já não há paciência para quem acha que tudo está mal, mas nunca se dispõe a fazer melhor.

Detesto... a indiferença. A falta de cuidado, nas palavras e nos gestos, entristece-me. Detesto quando se olha para o outro como um número ou um obstáculo, em vez de o reconhecer como alguém com história, com propósito e utilidade societal (sempre).

A ideia... de que envelhecer é definhar é das mais injustas que já inventámos. Acredito que a idade pode ser força, desde que o mundo acredite e se disponha a escutar os mais velhos como protagonistas do presente e do futuro. Eles são sempre deste tempo, do tempo que se vive!

Questiono-me se... alguma vez saberemos cuidar verdadeiramente de nós próprios, enquanto comunidade. Questiono-me se não é profundamente contraditório que a política pública continue a falhar no reconhecimento, simbólico e remuneratório, de quem cuida de uma sociedade, protege e salva, onde estão os nossos filhos, os nossos pais, nós próprios: as instituições sociais, o associativismo, as forças de segurança, os bombeiros, etc, os que seguram o país todos os dias com dedicação, que frequentemente, ultrapassa as “obrigações”. Como é possível que ainda não se valorize o essencial?

Adoro... ideias com propósito, gente que quer mudar o mundo para melhor, cafés demorados com gente que me obriga a pensar melhor, as viagens. Diz-me a minha mãe: “Quem quiser saber, tem que viajar, conviver e ler”.

Lembro-me tantas vezes... das vozes dos que já partiram, dos abraços dos que pouco têm mas tudo partilham, e dos olhos brilhantes dos idosos que, pela primeira vez, realizaram um sonho.

Desejo secretamente... ter sempre coragem para começar de novo, mesmo quando o corpo ou o tempo dizem que não. Inovar, errando muitas vezes e tentar de outra forma. Desejo uma vida com mais encontros improváveis e menos certezas absolutas.

Tenho saudades... sempre e muitas da minha terra transmontana e das suas gentes. Tenho saudades das pessoas e das terras onde vivi e trabalhei. Gosto de pessoas e tenho saudades das que me marcaram.

O medo que tive... de falhar com os que acreditaram em mim. Mas aprendi que também se serve com fragilidade e que, por vezes, o erro é o caminho para a criação. Medo de ter magoado e não ter pedido perdão.

Sinto vergonha alheia... quando alguém se gaba do que tem e mostra com desdém. E quando se julga o outro com ligeireza, como se conhecesse mais do que um “ponto” da história inteira da vida de alguém.

O futuro... dá-me esperança quando o vejo nas mãos de quem cria, cuida e constrói, independentemente do contexto. Não me iludo: haverá desafios. Mas continuo a acreditar na força dos que sonham, mas com os pés na terra.

Se eu encontrar... alguém que ainda acredita no impossível, sento-me. E escuto. São essas pessoas que mudam o mundo, mesmo quando o mundo ainda não percebeu.

Prometo... continuar a fazer perguntas, mesmo quando se espera de mim respostas. Aprendi que as pessoas inteligentes fazem sempre muitas perguntas. Prometo estar onde fizer sentido estar, respeitar a parcialidade do tempo e evitar estar por vaidade.

Tenho orgulho... nas minhas equipas de trabalho e de voluntariado, na coragem da maioria das pessoas da minha vida e no que conseguimos fazer quando unimos talento, conhecimento e bondade. Tenho orgulho em sonhar alto, em fazer muitas coisas “quase” ao mesmo tempo, mesmo quando dizem que não vale a pena. Tenho orgulho na “sementeira” que eu e o meu marido harmonizamos nos nossos filhos, em complemento com o que o mundo lhes ensinou.