Viver
Palavra de Honra | Acredito na Escola como local de oportunidades, de aprendizagem, de afectos e, acima de tudo, de sonhos de futuro
Sandra Campos, professora
Já não há paciência... de nos demitirmos da nossa missão como cidadãos. Como parte que forma um todo. Estamos sempre à espera dessa grande entidade abstracta “eles” ou “os outros”. Eles que façam, que mandem, que resolvam… e nós? E eu? E tu?
Detesto... o pequeno poder que maltrata. Ter poder é servir os outros e contribuir para a melhoria das suas vidas. Isso é ser poderoso.
A ideia... de uma máquina pensar e sentir por mim é aterradora. A inteligência não pode ser artificial. É humana por definição.
Questiono-me se... este ritmo contranatura em que vivemos, com decisões em milésimos de segundo, com reacção em vez de reflexão, com crítica em vez de empatia, nos vai levar a algum lado… também posso responder: não!
Adoro... pensar devagar, ler devagar, viver devagar. Cozinhar para quem amo e estar à mesa horas a conversar sobre a vidinha. Gosto mesmo.
Lembro-me tantas vezes... dos ensinamentos da minha avó Joaquina, agricultora, que me dizia frequentemente: “Sandra, só regamos a terra no dia em que a água nos pertence!” Respeito.
Desejo secretamente... viver até ser muito velhinha e enrugada para acompanhar as gargalhadas dos meus filhos e dos filhos deles e dos filhos dos outros…. Não gosto da ideia de deixar isto, pá!
Tenho saudades... das tardes imensas da infância, onde brincar não era um conceito estudado e conferenciado. Onde paus eram talheres, pedras batatas fritas e o vento as cortinas da casa imaginária.
O medo que tive… do vazio, do silêncio, do espaço crescente, da ausência de risos nos recreios, dos corredores sem eco, das salas sem perguntas, durante a pandemia. Não quero mais!
Sinto vergonha alheia... de quem se augura o direito de decidir o que faço com o meu corpo. Respeito.
O futuro... a todos nós pertence. Estamos todos implicados naquilo que somos e seremos. Acredito mesmo que somos parte da equação, o que acarreta responsabilidade e compromisso. Sou professora porque acredito que ponho as mãos e a alma no futuro dos que me rodeiam, a quem ensino e com quem aprendo.
Se eu encontrar... o Nelson Mandela numa rua estrelada num tempo qualquer, dou-lhe um abraço e grito: “Obrigada, mestre!”
Prometo... continuar a ser uma cidadã, mãe e professora que acredita na Escola como local de oportunidades, de aprendizagem, de afectos e, acima de tudo, de sonhos de futuro.
Tenho orgulho... nos meus alunos quando voam, com o mundo todo nos olhos e vontade de ser. É um orgulho que se traduz, muitas vezes, em lágrimas de alegria. Assumo a minha emoção como parte daquilo que sou. Os meus alunos sabem do que falo!