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Palavra de Honra | A arte e a cultura são uma das melhores armas de guerra

19 out 2025 09:21

João Fernandes, professor e coreógrafo

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- Já não há paciência ... para esta mania de pegar em doces tradicionais, enfiar-lhes Nutella ou pistácio e polvilhá-los com glitter, como se fosse obrigatório terem “modo influencer”. Salvem as Brisas do Lis deste karma!

- Detesto... quando, em Lisboa, o trânsito me faz envelhecer dois anos em cada semáforo, enquanto os aviões passam tão baixo que quase me pedem licença para aterrar na varanda.

- A ideia... que tinha de ser adulto era ter superpoderes para fazer tudo... afinal, ser adulto é ter superpoderes para enfiar 36 horas dentro de um dia de 24... e mesmo assim há sempre algo por fazer…

- Questiono-me se... “Leiria não existe”. Se assim for, por que é que cada vez que digo de onde sou, respondem “ah... já passei lá, na autoestrada”. Creio que as pessoas acham que passei 18 anos da minha vida a viver numa estação de serviço ou, eventualmente, num cenário tipo Nárnia, onde existe um castelo.

- Adoro... tantas coisas que é difícil elencá-las todas... adoro a área em que trabalho; começar novos projetos; viajar e conhecer novas culturas; e estar numa esplanada numa noite quente de verão... basicamente, adoro tudo o que me põe em movimento ou a contemplar o mundo (diverso) à minha volta.

- Lembro-me tantas vezes... das pessoas que colaboraram comigo nas minhas “aventuras culturais” em Leiria... especialmente dos/as fotógrafos/as que “converti” à dança e que agora passam a vida a tentar capturar o “momento certo” em que até eles/as (secretamente) querem dançar… 

- Desejo secretamente... passar a reforma a viver no silêncio do campo. O problema é que faltam tantas décadas que nem sei se irei ter reforma…

- Tenho saudades... dos tempos em que andava de bicicleta por São Romão; em que fazia da casa dos/as vizinhos/as a minha própria casa; em que “levava emprestado” umas maçãs dos pomares alheios; e dos tempos em que achava que nadava no Rio Lis, mesmo quando a água só me dava pelos tornozelos.

- O medo que tive... em escolher a dança como profissão. Ainda assim, pelos vistos, não havia razão para ter medo. A quem tiver a mesma vontade (seja na dança ou noutra área artística/cultural): não desistam! Persistam! Vale mesmo a pena!

- Sinto vergonha alheia... daqueles/as que, na Assembleia da República, a fazem parecer um reality show, onde os gritos, as mentiras e a confusão valem mais do que as ideias…

- O futuro... pelo que dizem, “só a Deus pertence”. Ainda assim, eu acho que vou continuar a improvisar e a ver no que dá…

- Se eu encontrar... o Ricardo Graça, vou pedir-lhe para não me tirar uma foto. Provavelmente, este “exercício” vai ser ilustrado com uma foto minha antiga, parecendo assim que mantenho a juventude eterna. 

- Prometo... não prometer nada! Assim não corro o risco de ter de inventar desculpas depois.

- Tenho orgulho... de todos/as os/as que, aí em Leiria, fazem os museus e os equipamentos culturais funcionar, e dos/as artistas que fazem a arte e a cultura chegar às pessoas, procurando fazer do mundo um lugar um pouco melhor. Há quem ache que não mudamos o mundo, mas eu continuo a acreditar que a arte e a cultura são uma das melhores armas de guerra.