Desporto

Nuno Saraiva: "Adoro competição. Gosto, até, de me sentir dorido"

7 abr 2016 00:00

Depois do bronze no Grand Prix de Samsun, o judoca da Marinha Grande falou da qualificação para o Rio de Janeiro, do sonho da medalha olímpica e das dúvidas por que passou na transição para sénior.

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Depois de alguns resultados menos conseguidos, este terceiro lugar no Grand Prix de Samsun, na Turquia, deve ter sabido mesmo bem.

Claro. No início do ano fiquei em terceiro no African Open, na Tunísia, mas as outras provas não me correram nada bem e sempre pelo mesmo motivo. Em Portugal foi criada a expectativa alta de eu ir aos Jogos Olímpicos e mesmo tendo o acompanhamento do meu psicólogo, Miguel Lucas, admito que não lidei da melhor maneira com isso. Só pensava em pontos, pontos e pontos para o ranking de qualificação olímpica.

Não pode ser.

Claro que não. Os pontos têm de ser o resultado da prestação que vou fazer. Agora estou a encarar tudo de maneira diferente. Na Turquia, esqueci os Jogos Olímpicos e lembrei-me da forma como encarava as competições quando era júnior. Estava apenas focado na prova, em como queria estar e como me queria sentir. É assim que vou olhar para o Campeonato da Europa. Não posso encará-lo como sendo algo que pode valer muitos pontos para os Jogos Olímpicos, mas que tenho ambições elevadas e tudo pode acontecer.

O Nuno é de extremos. Parece que ou é eliminado à primeira ou, se passa a primeiro combate, vai ganhar uma medalha. Porquê?

É difícil de explicar. Pode chamar-se inconsistência, mas acredito que se deveu ao ano que passei em 2015, que não foi nada fácil. Tive várias dúvidas, houve várias mudanças e isso provocou alguma insegurança. Para voltar ao registo em que estava é um processo que demora algum tempo.

Que dúvidas eram essas?

Com a transição para sénior, a maior dúvida era sobre mim, se era capaz ou não. Estava sempre de um lado para o outro, entre o Benfica e a selecção, e não conseguia estabilizar. Comecei a perder mais e foi com uma bola de neve, que foi crescendo e que não conseguia parar. Quando perdemos, pensamos muito se continuamos, se vale a pena. Passa-nos tudo pela cabeça. Depois, com calma, acabo sempre por lembrar-me do que quero desde miúdo, daquilo com que sempre sonhei. Pensar em desistir agora que estou à porta? Não pode ser.

O ano de 2015 é, então, para esquecer?

Parece um ano vazio, mas não é. Fiquei em segundo no Grand Prix do Uzbequistão, porque me isolei completamente, exactamente como agora, na Turquia. Foi a prova excepção do ano. Olho para 2015 e podia estar com aquela conversa de que cresci imenso. Isso toda a gente sabe, mas sinto que foi um ano muito importante para mais tarde, porque quando ganhamos é tudo muito bom, mas quando andava a perder, como ainda há poucas semanas, tudo é mais complicado. O meu psicólogo disse-me sempre para me focar na preparação. porque quanto mais perdia mais me preocupava com o resultado. Não pode ser esse o nosso foco.

Passou-lhe pela cabeça desistir?

Tudo passa pela cabeça quando me sinto mal, com más emoções e a sentir-me triste, mas logo a seguir percebo por que razão faço judo. Seria completamente ridículo, porque toda a minha vida está estruturada à volta do alto rendimento. Faço judo porque gosto, porque me sinto bem, porque sou competitivo e adoro a competição. Gosto, até, de me sentir dorido como estou hoje e já esta semana partir para estágio. Adoro viajar. Adoro estar no Japão e sentir-me a crescer como atleta e como pessoa. É uma maneira de viver e só tenho pena de saber que há um fim.

Os obstáculos estão, então, superados.

Acredito que sim. É para isso que tenho pessoas na minha vida –o meu psicólogo e o treinador do Benfica – que mesmo quando os resultados não apareceram mantiveram a calma e a tranquilidade, porque sabiam que estávamos no caminho correcto. Não podemos reformular os planos só porque não deram certo uma vez. Quando sabemos que estamos a fazer as coisas bem devemos continuar.

Continuar até onde?

Desde miúdo que tenho o objectivo de ser medalhado olímpico. Assumo isso, ao contrário de muitas pessoas. Mas se é o que eu quero… 

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