Viver

Nelson Ferreira. Duas novas academias para ensinar pintura e desenho como no século XIX

26 out 2024 12:41

O artista natural de Leiria acaba também de inaugurar a exposição Tetralogia: Cintilações do Manto Celeste

nelson-ferreira-duas-novas-academias-para-ensinar-pintura-e-desenho-como-no-seculo-xix
Algumas obras agora patentes no Museu Municipal de Ferreira do Alentejo
DR

“Estamos a falar de academias como existiam no século XIX”, explica Nelson Ferreira, sobre as novas escolas de desenho e pintura que acaba de organizar, em Lisboa e no Porto, abrigadas, respectivamente, na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves e no Museu Nacional Soares dos Reis.

“No século XIX, toda a arte académica tendia a estar ligada a museus de grande envergadura, portanto, a ideia era que os alunos não só aprendiam através do mestre e uns com os outros, mas, também, educavam o olhar estudando as obras dos grandes mestres do passado”, diz o artista e professor natural do concelho de Leiria.

Durante o século XX, “o ensino académico quase desapareceu” e quase se perderam “700 anos de saber acumulado”, garante Nelson Ferreira. É para “corrigir” o que considera “um erro” e colocar Portugal “no mapa internacional” que surgem O Atelier, a funcionar no antigo estúdio de José Malhoa em Lisboa, e a Academia de Inverno, no Porto, que se inspiram em técnicas que tanto José Malhoa como Soares dos Reis terão, eles próprios, aprendido.

O programa agora proposto constitui, segundo Nelson Ferreira, uma tendência em vários países. “A grande onda dos últimos 15 anos, pelo menos, em Londres, onde eu moro, é estudar outra vez pintura e desenho a sério como os mestres antigos sabiam fazer”.

“No passado, o artista tinha de ter técnica” ou “ninguém o levava a sério”, reforça Nelson Ferreira, que acredita que “quem sabe desenhar bem e pintar bem depois consegue pintar em qualquer estilo”. E sublinha: “Esta grande vaga, este tsunami de voltar ao saber clássico, está a ser encabeçado pelos jovens, as novas gerações”.

Em Lisboa e no Porto passam a ser oferecidos vários módulos (abertos a estudantes, profissionais ou amadores) que começam, sempre, com o método Bargue. A prioridade é “essencialmente, treinar o olhar”. Em nenhum curso “o aluno pode tirar medidas” e “o resultado não deve desviar mais do que um ou dois milímetros do original”.

As primeiras turmas esgotaram. Em Janeiro, abrem novas inscrições.

Entretanto, Nelson Ferreira inaugurou esta semana a exposição Tetralogia: Cintilações do Manto Celeste, no Museu Municipal de Ferreira do Alentejo.