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Mundial do Qatar: o futebol à boleia da inovação
Haveria uma “Mão de Deus” de Maradona em ’86 se o VAR existisse?
O Mundial de futebol é mais que um torneio desportivo.
É um evento que capta a atenção de milhões de pessoas em todo o mundo. Os fanáticos pelo futebol terão já apontado na sua agenda todos os jogos que vão querer assistir durante o próximo mês, mesmo aqueles que ocorrem durante o horário laboral! Já aqueles que não ligam ao futebol, não se livram da cobertura diária do evento nos jornais e telejornais.
O que é certo é que quando o árbitro apita para dar início à partida, milhões de pessoas vão estar agarradas à televisão e às emoções de ver as melhores nações competirem pelo troféu máximo do desporto rei.
Porém, não é apenas o futebol que vai estar em exibição durante o torneio, pois o Mundial é essencialmente um evento de inovação que procura superar a edição anterior em todos os aspetos.
É precisamente nestas inovações que podemos ver a importância da Propriedade Industrial ao serviço do melhoramento de um desporto que todos (ou quase todos) amamos.
Podia falar de inovações, das quais todos damos conta: o logótipo do Mundial, os novos equipamentos e chuteiras ou até os novos estádios (alegadamente mais sustentáveis).
Todos estes produtos fazem parte, desde sempre, da cultura do Mundial e têm um (reconhecido) valor comercial elevadíssimo.
Contudo, a candidata a maior inovação neste Mundial é mesmo… a bola.
Mas que impacto (além de estético) terá uma nova bola?
Bem, para responder a essa pergunta basta recordar a famosa Jabulani, bola oficial do Mundial de 2010 na África do Sul, que foi um autêntico pesadelo para os jogadores durante essa competição.
O formato esférico quase perfeito, desenvolvido pela Adidas, almejava melhorar o controlo de bola, mas na prática resultou em remates imprevisíveis para quem rematava, como para quem defendia.
Neste Mundial, a bola oficial Al Rihla terá também impacto no jogo… e muito!
Porém, desta vez, os jogadores podem descansar.
A inovação não se centrou na aerodinâmica da bola, mas sim na sua conectividade e integração num sistema que poderá revolucionar a ação do VAR (video assistant referee).
A bola será parte integrante do novo sistema semi-automático de deteção de foras-de-jogo, uma inovação que vem complementar a ação do VAR e que terá impacto profundo nos jogos.
Este sistema inovador combina a captação de imagens, por câmaras posicionadas nos estádios, com a transmissão de dados de um sensor que se encontra dentro da bola de jogo.
No fundo, será uma bola “inteligente” que sabe comunicar quando é chutada.
Esta transmissão de dados, a partir da bola, permite definir com precisão o momento em que a bola é chutada, o que para efeitos de deteção de fora-de-jogo permite saber o momento preciso em que um passe é feito.
É, então, nesse frame que as famosas linhas de fora-de-jogo são traçadas com alta precisão, através da triangulação das imagens captadas pelas múltiplas câmaras no estádio.
Com esta inovação, acabam-se as polémicas dos frames usados para detetar o momento de passe que tanto alimentam a imprensa e os comentadores desportivos.
Tal como o VAR, introduzido no último Mundial, o novo sistema de deteção de foras-de-jogo poderá mudar o futebol, no entanto deixa no ar algumas questões:
Haveria uma “Mão de Deus” de Maradona em ’86 se o VAR existisse?
Poderia o México passar aos quartos-de-final em 2010, se o fora-de-jogo de Tévez fosse assinalado no primeiro golo da Argentina?
Se os mais puristas dizem que estas inovações tecnológicas desvirtuam o desporto, há quem procure tornar o futebol mais justo em prol da “verdade desportiva”.
Polémicas à parte, há sempre margem para inovar.
[Nota: no jogo inaugural Qatar – Equador, o primeiro golo do Equador foi anulado por fora-de-jogo, após consulta do VAR… A inovação marcou primeiro neste Mundial!]
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990