Sociedade

Leiria adquire sementes de pinheiros originais da zona queimada para reflorestar a mata atlântica

26 nov 2022 07:41

Talhão intervencionado tem 26 hectares

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Embora o pinheiro-bravo não seja originário de Portugal, estes pinhões são o resultado de mais de 700 anos de apuramento da espécie
Alexander Grey@Unsplash
Jacinto Silva Duro

São 120 quilogramas de sementes de pinheiro-bravo atlântico e representam mais um esforço para tentar recuperar a a mata atlântica, destruída pelo fogo em 2017.

A autarquia de Leiria adquiriu vários lotes de sementes que o Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF) colheu antes desse ano e pretende utilizá-las para replantar um talhão com 26 hectares, localizado junto à Lagoa da Ervedeira, já na zona sul da Mata do Urso.

Embora o pinheiro-bravo não seja originário de Portugal, geneticamente, estes pinhões são o resultado de mais de 700 anos de apuramento da espécie, ainda antes do aparecimento do famoso D. Dinis, num processo em grande parte natural, motivado pelos rigores climáticos e geomorfológicos da costa atlântica.

Recorde-se que os primeiros reis de Portugal resolveram utilizar estas árvores para fixar a orla costeira e secar as zonas alagadas. O resultado é um fenótipo atlântico, de características ímpares em tudo semelhantes às das espécies autóctones.

“Esta semente foi recolhida em árvores adultas que existiam antes dos fogos e, como tal, estão geneticamente mais preparadas ao ambiente da nossa costa”, sublinha o vereador do Ambiente Luís Lopes, realçando o intento de aumentar, com o emprego destes pinhões, o sucesso da implantação nas zonas ardidas.

“Neste momento, a taxa de sucesso é de 30%. Ou seja, sete em cada dez árvores morrem”, explica o autarca, recordando, contudo, que a semente agora cedida pelo município ao ICNF está preparada para germinar nos solos pobres de areia, devido ao apuramento destes pinheiros-bravos atlânticos.

A sementeira deverá ser realizada através de acções de voluntariado, recrutando associações e empresas que aceitem a criação de um vínculo para o cuidado das plantas e reflorestação do talhão, tornando-se padrinhos ou mecenas dos espécimes plantados.

“Pretendemos que estas entidades concordem em cuidar do território plantado, pois essa é uma das principais dificuldades. Através da criação de um vínculo, comprometem-se em irem regar e substituir as árvores mortas, além de controlarem as espécies invasoras”, descreve.

Este ano, a sementeira no talhão vai começar ainda durante este mês de Novembro e dever-se-á estender até Fevereiro, para aproveitar ao máximo a temperatura mais indicada para a deposição dos pinhões na terra e as águas das chuvas.

“Utilizar sementes é melhor do que colocar plantas já crescidas no solo, uma vez que os pinheirinhos que foram plantados até agora nasceram a partir de sementes do Pinhal Interior, que, geneticamente, estão menos adaptadas à nossa zona atlântica”, resume Luís Lopes.