Saúde

João Morais obrigado a deixar hospital de Leiria

27 jun 2024 09:00

Cardiologista completou 70 anos, o que o impede de continuar no Serviço Nacional de Saúde

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João Morais assumiu o serviço de Cardiologia do Hospital de Santo André, em 2001
Ricardo Graça

Completou 70 anos de idade e a função pública impede-o de continuar a exercer medicina no Serviço Nacional de Saúde ao qual dedicou toda a sua vida.

João Morais, director do serviço de Cardiologia, considerado por muitos um dos melhores do País, deixou o Hospital de Santo André, da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, 23 anos depois de ter impulsionado a cardiologia neste serviço.

No entanto, o médico garante que ainda está longe da sua reforma. Além da investigação que vai continuar a realizar e da clínica privada, o cardiologista continuará a dar o seu contributo a algumas das principais organismos de cardiologia nacionais e internacionais.

“A minha vida assistencial esteve sempre muito preenchida no privado, mas também na actividade científica. Vou continuar como presidente da Liga Europeia Mediterrânea contra as Doenças Trombóticas até 2025 e à frente da plataforma educacional Challenges in Cardiology”, adianta ao JORNAL DE LEIRIA, ao referir que também integra o grupo de estudos para a doença trombótica da Sociedade Europeia de Cardiologia.

João Morais vai manter as suas actividades do ponto de vista educacional, sendo, neste momento, co-orientador de dois estudantes de doutoramento. “Vou tentar descansar um pouco mais, agora que não tenho a pressão dos horários e não tenho de trabalhar todos os dias da semana. O tédio não me preocupa. Não preparei a saúde, mas há muita coisa em que ainda estou envolvido”, destaca, admitindo que é possível que a vida hospitalar lhe venha a fazer alguma falta, até porque faz parte do início do SNS.

Quando chegou a Leiria, em 2001, João Morais encontrou um serviço de Cardiologia, praticamente, “moribundo”. “Hoje tem 15 médicos e seis internos de especialidade. É prestigiado e procurado pelos mais novos. Orgulho-me do que deixei no hospital, mas gostava de ter conseguido fazer mais. Nunca me acomodei e reivindiquei sempre”, conta.

Hélia Martins foi nomeada directora para substituir João Morais interinamente até ser realizado o concurso para preencher o lugar. “O serviço está muito bem entregue. É uma excelente profissional e reúne o consenso das pessoas. Desejo lhe o melhor. Nunca é fácil substituir alguém que está no lugar há mais de 20 anos”, salienta.

Médico cardiologista desde 1988, João Morais fez parte de vários organismos da Sociedade Europeia de Cardiologia e integrou seis direções da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, sendo seu presidente honorário. Foi ainda membro fundador da Competência em Emergência Médica, e coordenador do grupo de trabalho que levou à utilização de desfibrilhadores cardíacos por não médicos. Foi ainda o criador da Unidade de Hemodinâmica e Intervenção Cardiovascular do CHL.