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Já ouviu falar no "Natal Ao Contrário"?

17 dez 2020 21:31

Porque, este ano, tudo tem de ser diferente

Natal Ao Contrário
Natal Ao Contrário
Marco Moreira
Natal Ao Contrário
Natal Ao Contrário
Marco Moreira
Natal Ao Contrário
Natal Ao Contrário
Marco Moreira
Natal Ao Contrário
Natal Ao Contrário
Marco Moreira
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Marco Moreira
Natal Ao Contrário
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Marco Moreira
Natal Ao Contrário
Natal Ao Contrário
Marco Moreira
Jacinto Silva Duro

Era para ser Natal de Pernas para o Ar, mas acabou por ser Natal Ao Contrário e reflecte o ambiente estranho que envolve a quadra natalícia neste ano de 2020.

Há quem estranhe o facto de os seguidores deste movimento, que já tem mais de 1500 adeptos na sua página de Facebook e muitos mais no Instagram e TicToc, montarem as suas árvores de Natal com as raízes no tecto e copa no chão, mas tudo tem a sua lógica e mensagem.

O #natalaocontrario é uma ideia saída da cabeça de Marco Moreira, arquitecto e designer de moda natural da Nazaré, precisamente para despertar nas pessoas um alerta para a grande mensagem natalícia deste 2020: este ano, tudo é e tem de ser diferente.

“Nunca tive uma árvore de Natal artificial. Quando era miúdo, havia pinheiros lá em casa, mas, em adulto, comecei a criá-las com sacos de plástico e até com um manequim”, conta o designer de 44 anos, detentor da marca de moda Mbut e que chegou a criar modelos exclusivos de alta costura para Aurea e Cláudia Vieira.

Este ano, porém, sentia-se sem qualquer ânimo ou inspiração. A pandemia e o clima geral, marcados pela ansiedade e pela dureza dos eventos, pareciam ter-lhe tirado a veia criativa.

Capitulou e adquiriu uma árvore de Natal de plástico no supermercado.

No entanto, quando a estava a montar, lembrou- se de modificar as bolas e transformou-as nas conhecidas representações do coronavírus SARS-CoV-2 e depois prendeu a árvore ao tecto.

Passou uma semana a criar uma narrativa a partir da Covid-19. 

“Não me importaria de não ter árvore de Natal, no ano que vem, se me dissessem que tudo isto passaria e voltássemos ao normal"
Marco Moreira

As bolas avermelhadas, com um elemento a sair, são os coronavírus”, explica.

Mas faltava algo mais. Além das “coronaballs”, faltava a alusão ao resto da história e da esperança de se voltar à vida onde as festas de famílias, as carícias e os abraços são permitidos e onde não há “distanciamentos sociais” ou “físicos”.

Marco investigou o assunto um pouco mais e procurou representações do coronavírus neutralizado pela vacina (qualquer uma). Percebeu que a cor utilizada nas publicações era o azul.

Veio-lhe à mente a ideia de juntar seringas, viradas para cima e de cor “neutralizante” e, assim, passaram a ser as velas com que, antigamente, se iluminava o pinheiro. Por fim, as bolas prateadas, que representam o vírus eliminado.

Quando terminou, resolveu partilhar o resultado no Facebook, em @NatalaoContrario, e no Instagram, na sua conta pessoal. Pretendia revestir a ideia com um objectivo solidário e angariar bens alimentares e de primeira necessidade para oferecer a Juntas de Freguesia e IPSS.

A tarefa acabou por ser mais complexa do que à partida parecia e acabou por adiar, para já, o intento.

Mesmo assim, o burburinho à volta do conceito do #natalaocontrario foi tal, que vários amigos juntaram-se à ideia. Uns adoptaram a decoração e a árvore presa no tecto, outros fizeram a sua própria interpretação do conceito, que Marco se apressa a partilhar na página do Facebook.

Entretanto a iniciativa chegou mesmo à imprensa e à televisão.

“Fiz um vídeo em timelapse com todo o trabalho de elaboração da narrativa do Natal ao Contrário e coloquei-o também no TicToc. Foi a primeira vez que usei aquela rede social. A mãe de um amigo, que já tem uma certa idade, ligou-me a meio de uma reunião, após ter visto o filme no Facebook, para me dizer que eu tinha de o publicar no TicToc!”

E assim foi. Até agora, o timelapse de Marco Moreira já foi visto cerca de 55 mil vezes.

O espírito de Natal lá de casa
Para Marco Moreira, a vontade de transformar a quadra em algo mais pessoal está ligada à infância e juventude na Nazaré.

“A minha mãe, costureira, trabalhava sempre no Natal, a fazer as roupas novas para as pessoas da vila usarem naquele dia. Chegava a costurar mais de 200 peças e, para ela, era das épocas com maior volume de trabalho. Não sobrava tempo para mais nada. Por isso, eu era o espírito de Natal lá de casa. Fazia sempre algo que me fizesse viver uma sensação natalícia.”

A primeira interpretação que fez da festa da família foi um presépio, há 25 anos. Construiu-o em arame a que deu formas helicoidais. “Para mim, o Natal é fazer e construir. Não é abrir uma caixa e tirar coisas para decorar”, diz, sublinhando que esse sentimento tornou-se mais reforçado quando, aos 17 anos, apareceram os sobrinhos e sobrinhas.

Qual é a prenda que o arquitecto desejaria neste Natal, para se concretizar em 2021? “Não me importaria de não ter árvore de Natal, no ano que vem, se me dissessem que tudo isto passaria e voltássemos ao normal.

Seria algo a que chamaria ‘Natal Invisível’, sinal de que teríamos incorporado o sentido natalício, sem necessidade de o mostrar exteriormente.”