Sociedade
Indisciplinar a escola – 100 anos de Saramago
Esta é uma das premissas do Plano Nacional das Artes e foi o que aconteceu no Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, das Caldas da Rainha
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"Indisciplinar a escola" é uma das premissas do Plano Nacional das Artes e foi o que aconteceu no Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, das Caldas da Rainha.
A professora Cecília Correia, coordenadora do projecto cultural de Escola-Plano Nacional das Artes faz um relato, na primeira pessoa, da iniciativa.
No dia 16 de novembro, dia de aniversário de José Saramago, a Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro desarrumou as salas, retirou as cadeiras das salas de aula, convidou entidades exteriores e comemorou os 100 anos do escritor.
Da parte da manhã, os convidados foram recebidos na biblioteca escolar, com “Leituras saramaguianas”, onde os presentes puderam saborear as palavras do autor, retiradas de obras como Memorial do Convento, Os poemas impossíveis, Cadernos de Lanzarote e Viagem a Portugal, através da leitura expressiva realizada por representantes dos mais variados elementos que compõem a comunidade educativa.
Assim, alunos de vários níveis de ensino, de Português Língua de Acolhimento, de Português Língua Estrangeira, da Unidade de Apoio ao Alto Rendimento da Escola, uma representante dos encarregados de educação, uma professora, uma assistente operacional, acompanhados musicalmente por alunos do Conservatório das Caldas da Rainha, homenagearam da melhor forma o escritor, reativando as suas palavras e o seu pensamento e deixando ecos perduráveis nos presentes.
Afinal, tal como refere Saramago na sua obra Viagem a Portugal, “é preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles”.
Com as cadeiras que saíram das salas de aula foi construída uma instalação artística: 100 SaramaguiANOS, 100 cadeiras, 100 alunos, 100 livros de José Saramago.
Todas organizadas num corredor, os alunos ali se sentaram e ali permaneceram, parte do dia, a ler textos das obras do autor.
As salas de aulas, que foram desarrumadas, deram lugar à apresentação de Quadros Vivos realizados pelo pintor José Santa-Bárbara.
O pintor fizera uma leitura de Memorial do Convento e realizou 35 telas, compreendendo 11 estudos, com uso de diferentes técnicas e predominância do óleo e da têmpera vinílica sobre papel colado, apresentadas em 2001 numa exposição que teve lugar na Biblioteca Nacional em Lisboa.
Os nossos alunos deram vida a três quadros do pintor: A ara de Cheleiros, A leva da Infanta e O espírito santo. A apresentação dos quadros vivos assentou na gravação aúdio do excerto da obra, que possivelmente dera inspiração ao pintor, com um fundo musical de Domenico Scarlatti, enquanto os alunos contavam a história do quadro com pequenos jogos teatrais, congelando por fim na posição do respetivo quadro.
Cada quadro vivo encontrava-se numa sala de aula.
Durante o dia as portas dos quadros vivos abriram em três momentos distintos - o primeiro para receber o pintor dos quadros, José Santa-Bárbara, e os restantes convidados, o segundo e terceiro para apresentação dos quadros às turmas da escola.
Para finalizar a manhã , o pintor teve a oportunidade de conversar com os nossos alunos referindo, de forma emocionada: “Que o que viu nesta escola foi um ato de coragem e de saber”.
A parte da tarde foi preenchida com uma palestra: "adaptação teatral de As intermitências da morte, de José Saramago", apresentada pelo João Maria André, professor e investigador na Universidade de Coimbra, que tem desenvolvido uma intensa atividade cultural na dramaturgia, encenação na Cooperativa Bonifrates e no Teatro Académico de Gil Vicente, do qual foi diretor.
Terminou a sua intervenção com a leitura de um texto de José Saramago na companhia da artista residente do nosso agrupamento, formada em teatro e performance.
Todos os participantes destas atividades vestiram ao longo do dia uma t-shirt, desenhada para a festividade, que dizia: A Saramaguear.
Foi um dia de escola indisciplinado, cheio de saber, como diz o pintor José Santa Bárbara, e com a colaboração das Bibliotecas do Agrupamento Rafael Bordalo Pinheiro, Rede de Bibliotecas Escolares, Coordenadora Interconcelhia das Bibliotecas Escolares, Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, CFAE (Centro de Formação de Associações de Escolas Centro-Oeste), ESAD (Escola Superior de Arte e Design), EHTO (Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste), Escola Secundária Raul Proença, Escola Básica D. João II, bem como de alunos (turmas do ensino secundário regular e do ensino profissional dos cursos de Técnico de Audiovisuais e de Técnico de Turismo), funcionários, professores, da artista residente do agrupamento, Amábile Bezinelli, coordenadora Intermunicipal do Plano Nacional das Artes, e Projeto Cultural de Escola (PNA).
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990