Economia

Helicicultura, quando o negócio dos caracóis corre a grande velocidade

1 set 2024 14:00

A produção e a comercialização de caracóis tornou-se um bom negócio em Portugal, que tem em Itália, Espanha e França grandes importadores deste nosso pitéu

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Daniela Franco Sousa

Nos últimos anos, o consumo de caracol português disparou, não só em Portugal mas também entre vários mercados europeus, apreciadores deste nosso pitéu. A nível nacional, o negócio corre a bom ritmo e no distrito de Leiria não é diferente.

Caracoleta, caracol branco e riscado são os tipos de caracol mais consumidos no nosso País. Alguns são produzidos em Portugal, já os outros são importados do Norte de África, explica o presidente da Widehelix - Cooperativa de Helicicultores.

Embora também haja riscado no nosso País, a quantidade é demasiado pequena para tornar a sua apanha rentável, refere Miguel Oliveira. Feitas as contas, continuamos a ser mais importadores do que exportadores, mas a procura por estes nossos produtos tem aumentado significativamente, reconhece o fundador da Widehelix.

Os nossos principais mercados externos são hoje Itália, França e Espanha, onde muitos produtores deixaram de trabalhar devido à subida dos custos de produção.

Impacto da guerra

Depois do eclodir da guerra na Ucrânia, o preço das rações aumentou tanto, que lhes fica mais barato importar caracóis a Portugal do que produzir nos seus territórios, justifica Miguel Oliveira.

“Antes da guerra, eu comprava 25 quilos de ração por 11 euros. Agora pago 18 euros. E lá fora custa ainda mais”, especifica o presidente. Os estrangeiros importam tanta caracoleta nossa, que os produtores nacionais têm que fazer “boa gestão” para continuar a colocar este artigo no mercado português. “O negócio corre lindamente e mais mão-de-obra houvesse e mais se faria”, salienta Miguel Oliveira.

Sílvio Domingues, responsável pela empresa CaraKolândia, de Ansião, iniciou o seu negócio em 2009, dando continuidade a uma actividade que os seus pais outrora também praticavam. “Recolhemos os caracóis no campo, escolhemos e vendemos. Não só vivos, mas também já cozinhados em embalagens de um, três ou cinco quilos”, explica Sílvio. Por ano, comercializam cerca de 10 a 15 toneladas.

“Vendemos na nossa loja, porque a quantidade não justifica entrar em grandes superfícies”, refere o proprietário. “Criados no campo, de forma natural, são mais saborosos”, garante Sílvio que, por esta altura, costuma vender também à comunidade emigrante, sobretudo de França e Suíça.

Nesta empresa familiar, laboram três pessoas. Entre Maio e Agosto, a equipa dedica-se à produção e venda de caracóis. No resto do ano, centra-se na produção de cogumelos silvestres.

Sílvio Domingues acredita que a helicicultura é uma actividade em crescimento. O consumo deixou de se centrar mais na zona de Lisboa e hoje os caracóis são comidos um pouco por todo o País.

Na Maceira Lis, em Leiria, outra empresa tem vindo a crescer no ramo. “A Biocaracol é uma empresa portuguesa, especializada na comercialização de moluscos, actividade assente na tradição de uma família, com mais de 50 anos de experiência e dedicação ao caracol”, salienta.

No seu caso, a actividade passa pela armazenagem, embalamento e venda destes moluscos, sejam eles vivos, confeccionados com casca ou em miolo. Paulo Fragoso, responsável pela Biocaracol, explica que a empresa adquire caracóis em vários pontos do País e importa também de Marrocos. Feita a devida transformação, comercializa-os tanto no mercado interno como no exterior, sobretudo em Espanha e França.

Cataplana de caracol riscado com amêijoas e camarão da costa, bochecha estufada de porco ibérico com risoto de caracol amarelo, espargos e avelã, ou ainda arroz de lulas malandrinho com miolo de caracoleta e ervas frescas são algumas das receitas partilhadas no site da Biocaracol, que demonstram a versatilidade deste artigo.