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Hádoc. Drama, comédia e publicidade tresloucada na “clareza singular” de A Loja de Penhores
Na próxima sessão do festival de cinema documental, em Leiria, o retrato crítico mas sem juízos de valor de uma sociedade em declínio
Parceria JORNAL DE LEIRIA e Hádoc - Festival de Cinema Documental
Texto de Nuno Granja, coordenador e programador do Hádoc
Bytom é uma pequena cidade da Silésia, província do sudoeste da Polónia. Com um forte crescimento industrial, no período após a 2.ª Grande Guerra, chegou a ser conhecida como a “Detroit polaca”, e a abundância de minério no subsolo justificará seguramente o mineiro de carvão que o brasão de armas da cidade ostenta. O desmembramento do bloco de leste marca o inicio do declínio sócio-económico da cidade, e uma decadência generalizada, que se revela, nos dias de hoje, no seu ar poluído e edifícios degradados.
É para um subúrbio pobre, do dormitório proletário de Bytom, que Wiesek e Jola, um casal de excêntricos empresários decidem mudar o seu negócio e abrir aquela que é provavelmente a maior loja de penhores da Europa. Mas com o encerramento de diversas minas e desemprego crescente, a situação não é, de todo, favorável ao florescimento do seu empreendimento. Pelo contrário, os habitantes de Bytom penhoram cada vez mais objetos absurdos e inúteis na tentativa de obter algum magro rendimento, e o prejuízo de Wiesek e Jola escala, deixando-os à beira da falência. Disposto a inverter o rumo dos acontecimentos, Wiesek enceta tresloucadas ideias publicitárias, degradando o seu relacionamento com Jola e deixando os seus três empregados entre barricadas do conflito.
Num tom tragicómico, Kowalski traça em A Loja de Penhores um retrato crítico mas sem juízos de valor de uma sociedade em declínio, e o resultado – em igual medida divertido e perturbador – deve bastante ao carisma dos próprios protagonistas. Os clientes, habitantes locais que surgem na loja e são retratados no filme, acabam por marcar indelevelmente o trabalho documental, que se diria poder ser ficcional, tal a excentricidade de Wiesek e Jola. Um filme de uma clareza singular, ainda que permanentemente envolto no fumo de cigarros fumados em cadeia.
A Loja de Penhores
de Łukasz Kowalski
Lombard | 81 min. | Polónia | 2021 | m/12
16 de Maio, Teatro Miguel Franco, Leiria, 21h30
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