Desporto
Gabriel Mendes: das corridas com a bicicleta do pai às medalhas de ouro no Europeu
Como bom marinhense que é, o seleccionador nacional de ciclismo de pista teve desde cedo a bicicleta como objecto de fascínio. Hoje, tem garantido o lugar nos Jogos Olímpicos
Para a maioria dos rapazes do concelho da Marinha Grande, a bicicleta não tem segredos. Era a companhia permanente, motivo de brincadeira e meio de transporte, e para Gabriel Mendes não foi excepção.
Na localidade, o relevo é quase inexistente e na altura, falamos dos anos oitenta e noventa do século passado, era “comum” toda a população ligada à indústria deslocar-se naquele meio de transporte.
Naturalmente, o miúdo seguia frequentemente para a escola montado nas duas rodas, mas esse “despertar” para as bicicletas aconteceu sobretudo porque o pai competia.
Era ciclista. “Inclusivamente, chegou a ser campeão regional, nos anos 60 do século passado”, conta Gabriel Mendes.
Morava no Moinho de Cima, perto de Albergaria, a “meio caminho” entre Leiria e a cidade vidreira, e jamais poderia imaginar que um dia o brinquedo preferido levá-lo-ia a conquistar medalhas de ouro em Europeus e a garantir um lugar nos imperdíveis Jogos Olímpicos. Mesmo que seja como treinador.
É, no entanto, o que vai acontecer. Com a qualificação de Maria Martins para Tóquio, o seleccionador nacional de ciclismo de pista vai alargar a comitiva da região de Leiria no mais importante evento desportivo do planeta, previsto para o Verão de 2021.
Sporting Leiriense
Mas voltemos ao pai. António Mendes corria pelo Sporting Leiriense. Gabriel não é desse tempo, nasceu em 1974, mas não esconde o carinho por uma fotografia tirada na Avenida Heróis de Angola, onde se vê o progenitor a chegar em primeiro. “É uma imagem histórica, muito curiosa, mesmo do antigo regime, com a presença da polícia e tudo.”
Ora, “aquela bicicleta de estrada sempre esteve presente e distinguia-se muito das outras, de passeio” que tinha em casa. O gosto pela modalidade sempre foi muito grande e a tentação difícil de controlar. “Fazíamos brincadeiras com as bicicletas na aldeia e às escondidas pegava na bicicleta do meu pai para poder ir andar.”
Gabriel Mendes levava a coisa a sério. Federou-se na adolescência e correu até aos 23 anos pelo Núcleo Sportinguista de Leiria, “com Carlos Vieira”.
Sem grande destaque no pelotão, com “pouco apoio” ao nível do treino, foi-se tornando num auto-didacta.
A prioridade estava nos estudos: Economia e Gestão. “O meu primeiro contacto com o conhecimento do desporto foi numa interrupção no estudo da Matemática.
eguei num livro de metodologia de treino, nunca mais parei e decidi que era mesmo aquilo que queria. Mudei de área.”
Aos 23 anos foi então estudar Ciências do Desporto para a Universidade da Beira Interior. Ainda fez umas provas amadoras, poucas, mas dedicou-se sobretudo ao estudo.
Licenciou-se, deu aulas, tirou um mestrado em Biomecânica e Fisiologia em Coimbra e começou a direccionar a investigação para a área do ciclismo.
Ainda esteve uns anos a colaborar com uma equipa de Pombal que o tinha ajudado na altura do mestrado, cedendo atletas para amostra de um estudo sobre os efeitos da alteração da posição de selim no rendimento e no consumo de oxigénio.
Velódromo de Anadia
Até que em 2010 tudo mudou. O velódromo de Anadia tinha sido construído no ano anterior e a Federação Portuguesa de Ciclismo lançou um concurso para o preenchimento de uma vaga no âmbito do ciclismo de pista que urgia ser desenvolvido.
“Era necessário criar uma selecção, também havia o projecto de avançar com uma escola de ciclismo de pista, com atletas em permanência.”
Gabriel Mendes concorreu e ficou a liderar o projecto, até hoje, após ter feito formação específica no estrangeiro.
E pronto, passados dez anos, os resultados falam por si e todos os atletas portugueses que participaram este mês de Novembro no Campeonato da Europa de ciclismo de pista, em Plovdiv, na Bulgária, regressaram a Portugal com
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