Desporto

Gabriel Mendes: das corridas com a bicicleta do pai às medalhas de ouro no Europeu

27 nov 2020 09:21

Como bom marinhense que é, o seleccionador nacional de ciclismo de pista teve desde cedo a bicicleta como objecto de fascínio. Hoje, tem garantido o lugar nos Jogos Olímpicos

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Feedbacks de Gabriel Mendes em prova são fundamentais para a orientação do atleta
FP Ciclismo

Para a maioria dos rapazes do concelho da Marinha Grande, a bicicleta não tem segredos. Era a companhia permanente, motivo de brincadeira e meio de transporte, e para Gabriel Mendes não foi excepção.

Na localidade, o relevo é quase inexistente e na altura, falamos dos anos oitenta e noventa do século passado, era “comum” toda a população ligada à indústria deslocar-se naquele meio de transporte.

Naturalmente, o miúdo seguia frequentemente para a escola montado nas duas rodas, mas esse “despertar” para as bicicletas aconteceu sobretudo porque o pai competia.

Era ciclista. “Inclusivamente, chegou a ser campeão regional, nos anos 60 do século passado”, conta Gabriel Mendes.

“O meu primeiro contacto com o conhecimento do desporto foi numa interrupção no estudo da Matemática. Peguei num livro de metodologia de treino, nunca mais parei e decidi que era mesmo aquilo que queria”
Gabriel Mendes

Morava no Moinho de Cima, perto de Albergaria, a “meio caminho” entre Leiria e a cidade vidreira, e jamais poderia imaginar que um dia o brinquedo preferido levá-lo-ia a conquistar medalhas de ouro em Europeus e a garantir um lugar nos imperdíveis Jogos Olímpicos. Mesmo que seja como treinador.

É, no entanto, o que vai acontecer. Com a qualificação de Maria Martins para Tóquio, o seleccionador nacional de ciclismo de pista vai alargar a comitiva da região de Leiria no mais importante evento desportivo do planeta, previsto para o Verão de 2021.

Sporting Leiriense

Mas voltemos ao pai. António Mendes corria pelo Sporting Leiriense. Gabriel não é desse tempo, nasceu em 1974, mas não esconde o carinho por uma fotografia tirada na Avenida Heróis de Angola, onde se vê o progenitor a chegar em primeiro. “É uma imagem histórica, muito curiosa, mesmo do antigo regime, com a presença da polícia e tudo.”

Ora, “aquela bicicleta de estrada sempre esteve presente e distinguia-se muito das outras, de passeio” que tinha em casa. O gosto pela modalidade sempre foi muito grande e a tentação difícil de controlar. “Fazíamos brincadeiras com as bicicletas na aldeia e às escondidas pegava na bicicleta do meu pai para poder ir andar.”

Em 1963, com 18 anos, António Mendes, pai de Gabriel Mendes, venceu uma prova de iniciação em ciclismo, na Avenida Heróis de Angola, em Leiria. Representava o Sporting Leiriense

Gabriel Mendes levava a coisa a sério. Federou-se na adolescência e correu até aos 23 anos pelo Núcleo Sportinguista de Leiria, “com Carlos Vieira”.

Sem grande destaque no pelotão, com “pouco apoio” ao nível do treino, foi-se tornando num auto-didacta.

A prioridade estava nos estudos: Economia e Gestão. “O meu primeiro contacto com o conhecimento do desporto foi numa interrupção no estudo da Matemática.

eguei num livro de metodologia de treino, nunca mais parei e decidi que era mesmo aquilo que queria. Mudei de área.”

Aos 23 anos foi então estudar Ciências do Desporto para a Universidade da Beira Interior. Ainda fez umas provas amadoras, poucas, mas dedicou-se sobretudo ao estudo.

Licenciou-se, deu aulas, tirou um mestrado em Biomecânica e Fisiologia em Coimbra e começou a direccionar a investigação para a área do ciclismo.

Ainda esteve uns anos a colaborar com uma equipa de Pombal que o tinha ajudado na altura do mestrado, cedendo atletas para amostra de um estudo sobre os efeitos da alteração da posição de selim no rendimento e no consumo de oxigénio.

Velódromo de Anadia

Até que em 2010 tudo mudou. O velódromo de Anadia tinha sido construído no ano anterior e a Federação Portuguesa de Ciclismo lançou um concurso para o preenchimento de uma vaga no âmbito do ciclismo de pista que urgia ser desenvolvido.

Gabriel Mendes com Maria Martins, dupla que estará presente nos Jogos Olímpicos de Tóquio (Foto: FP Ciclismo)

 

“Era necessário criar uma selecção, também havia o projecto de avançar com uma escola de ciclismo de pista, com atletas em permanência.”

Gabriel Mendes concorreu e ficou a liderar o projecto, até hoje, após ter feito formação específica no estrangeiro.

E pronto, passados dez anos, os resultados falam por si e todos os atletas portugueses que participaram este mês de Novembro no Campeonato da Europa de ciclismo de pista, em Plovdiv, na Bulgária, regressaram a Portugal com

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